17 de outubro de 2008

A Velha Malvada

Quem não conhece, nem que seja por fotografia, alguém que faça lembrar bastante esta figura? É como se já a tivéssemos em nosso imaginário e, ao ler, integrássemos sua imagem, que cria dimensão, forma, eu arriscaria a dizer, cria vida. Como exemplo do tipo de descrição literária em Balzac, temos, no romance A Prima Bette, vol. X da Comédia Humana, a passagem que segue:
Vitorino sentiu um íntimo terror, por assim dizer, ao defrontar-se com a horrorosa velha. Embora ricamente vestida, ela causava medo com os sinais de fria maldade que apresentava a sua cara chata, horrivelmente enrugada, branca e musculosa. Marat, se fosse mulher e estivesse naquela idade, teria sido, como a Sra. de Saint-Estève, uma imagem viva do terror. A velha sinistra refletia nos pequenos olhos claros a cupidez sanguinária dos tigres. Seu nariz esborrachado, cujas narinas enormes, de buracos ovais, sopravam o fogo do inferno, lembrava o bico das piores aves de rapina. Os longos pelos de barba, crescidos ao acaso em todos os buracos do rosto, denunciavam a virilidade de seus projetos. Quem quer que visse essa mulher pensaria que todos os pintores teriam errado na cara de Mefistófeles.