12 de outubro de 2008

As Bases da Autoridade

Há um minimum de prestígio que um governo não pode se dispensar, e que se fundamenta, primeiro, sobre superstições e lendas populares, iluminuras do direito divino, erro fundamental um dia e vital das sociedades. Quando ele se desvanece, é preciso procurar outras bases para a autoridade, mas são sempre ficções, apenas mais artificiais, ou seja, mais racionais, e mais conscientemente fabricadas. São necessários historiógrafos oficiais para acomodar a História, são necessários jornalistas para desnaturar os fatos atuais, são necessários múltiplos atores para representar com sucesso a vasta comédia do sufrágio, seja restrito, seja universal, e fazer-se dar, através da opinião, as ordens ou os elogios que se lhes são ditados. 
Gabriel Tarde 
Observação: Destaquei esta passagem como citação de abertura da tradução de A Criminalidade Comparada. A parte final do livro é dedicada a um estudo do autor sobre a necessidade de ilusão nas sociedades, ilusão que ele diferencia bem da mentira, esta última, nociva e estimulante da criminalidade.