26 de outubro de 2008

AS CARTAS V

Poesia de Francisco para Maria remetida em agosto de 1923
Balada Triste

A tarde morre, lenta, lentamente,
Tudo envolvido numa carícia calma e branda.
Um bando de andorinhas no ar, ciranda.
Há sussurros de fonte e um perfume dolente,
Como o perfume de mulher adolescente,
Vem das árvores, vem dos campos...

A tarde morre, lenta, calma...
O que terá minh'alma?

Há pouco, o meu olhar, vago, indeciso,
perdido num deslumbramento
de mágica paisagem,
seguia o desvairado rodopiar
de uma folha levada pelo vento,
numa doida voragem...

Ela ora pelo chão rolava
ora os braços erguia para o ar...
E rodopiava aquela folha, rodopiava,
sempre levada na corrente...

E era tão meigo e comovente
o seu olhar...

Que tristeza me trouxe aquela folha!...