17 de outubro de 2008

Balzac

Nunca vou esquecer do dia em que, finalmente, consegui adquirir a minha Comédia Humana, na edição antiga, anotada, traduzida com propriedade e lindamente encadernada. Hoje até me arrisco a ler algumas das novelas no original, o que só me leva a reafirmar a qualidade das traduções que aparecem nessa edição da saudosa Editora Globo.
Honoré de Balzac não é apenas o maior dos romancistas, mas ainda um verdadeiro historiador de costumes, documentando minuciosamente a sociedade e uma infinidade de tipos sociais retratados em mais de dois mil personagens. Nascido em Tours em 20 de maio de 1799, após estudos no colégio, resolve, em Paris, por volta de 1818, dedicar-se apenas à literatura, felizmente contrariando o desejo da família, que queria vê-lo advogado. No início de sua carreira publicou, sob os pseudônimos de Lord R'Hoone e de Horace de Saint-Aubin, uma série de romances menores, à moda dos folhetins. Depois, suas obras iriam suceder-se em velocidade espantosa num período de vinte anos. Paralelamente teve lá sua vida mundana, freqüentando salões, viajando bastante e procurando sempre, ainda que inutilmente, um meio de enriquecer.
Balzac conheceu o êxito, ainda que nunca a fortuna. Destacaram-se La Peau de chagrin (1831; A pele de onagro), Le Chef-d'oeuvre inconnu (1832; A obra-prima desconhecida), La Recherche de l'absolu (1832; A busca do absoluto), Eugénie Grandet (1833) e, sobretudo, Le Père Goriot (1834; O pai Goriot), onde começam a reaparecer personagens de livros anteriores, ou seja, Balzac visou conferir à sua obra uma unidade encadeada, que lhe dá caráter global, verdadeiro espelho da sociedade francesa da primeira metade do século XIX, antes, durante e depois da Revolução, o que explica o constante interesse do romancista pela burguesia nascente e pela aristocracia em franca decadência, descrevendo estruturas e instituições que servem de pano de fundo aos seus romances.
Obsessivo nos detalhes, seus personagens vivem e encarnam seres de carne e osso que nos são mostrados por dentro e por fora, em detalhes.
A monumental Comédia Humana, título escolhido por Balzac em 1842, começou a ser publicada em 17 volumes. Em 1845, para a segunda edição, foi adotado o plano que agrupou as obras em: (I) Estudos de costumes no século XIX: (a) cenas da vida privada; (b) cenas da vida de província; (c) cenas da vida parisiense; (d) cenas da vida política; (e) cenas da vida militar; (f) cenas da vida rural. (2) Estudos filosóficos. (3) Estudos analíticos.
Em 1850, já gravemente enfermo, Balzac se casou com Éveline Hanska, uma condessa russa, e, em 18 de agosto desse mesmo ano, morre em Paris. A edição definitiva da Comédia humana, que saiu postumamente entre 1869 e 1876, constava de 137 romances, cinqüenta dos quais tinham ficado incompletos.