31 de dezembro de 2008

Meus Durant

Desconfiem sempre de uma biblioteca bem arrumada repleta de livros bem cuidados. Desconfie de quem não risca livros, não sublinha, não escreve nas suas margens nem os dobra e mesmo os mancha com um dedo engordurado de quem lê na cozinha, enquanto come alguma coisa pelas madrugadas. Meus livros, pelo menos os mais queridos e aqueles aos quais eu devoto um maior apego, estão todos marcados, usados e com partes destacadas. É evidente que uma biblioteca bem cuidada e cheia de livros novos pode ser bonita e até decorativa. Eu, porém, prefiro aquelas que têm ácaros, traças, riscos, livros surrados, marcados e que se amontoam ao meu redor, transmitindo a certeza de uma presença constante que forma pontes no tempo e no espaço, sem que seja preciso mais que o gesto de folhear uma página.