
Desconfiem sempre de uma biblioteca bem arrumada repleta de livros bem cuidados. Desconfie de quem não risca livros, não sublinha, não escreve nas suas margens nem os dobra e mesmo os mancha com um dedo engordurado de quem lê na cozinha, enquanto come alguma coisa pelas madrugadas. Meus livros, pelo menos os mais queridos e aqueles aos quais eu devoto um maior apego, estão todos marcados, usados e com partes destacadas. É evidente que uma biblioteca bem cuidada e cheia de livros novos pode ser bonita e até decorativa. Eu, porém, prefiro aquelas que têm ácaros, traças, riscos, livros surrados, marcados e que se amontoam ao meu redor, transmitindo a certeza de uma presença constante que forma pontes no tempo e no espaço, sem que seja preciso mais que o gesto de folhear uma página.