Lineu, tentando colocar em boa ordem as diversas formas vivas que povoam nosso planeta, chamou o homem, — o qual constitui, evidentemente, uma espécie animal distinta de todas as outras, — Homo sapiens, o homem sábio.
Mas tal elogio é manifestamente injustificado, porque o homem acumula em si abundantes exemplos de extraordinária estupidez, tantos, que deveria, — para conformar-se à realidade das coisas, — denominar-se de outro modo, e dizer: homo stultus, o homem estúpido.
Quando concordarmos em empregar uma classificação zoológica séria, será necessário adotar esse termo.
Nesse breve ensaio, estabelecemos — ou, ao menos, tentamos estabelecer — que o homem é inferior à maior parte das espécies animais, seja pelo bom senso, seja pela sabedoria. Parece-me mesmo que teríamos o direito de classificá-lo como homo stultissimus, o homem estupidíssimo.
Todavia, para ser moderado, contentar-nos-emos em dar-lhe — sem superlativo — o apelido que lhe convém: homo stultus, homem estúpido. E daremos as provas de sua imensa e irremediável estupidez.
O autor não faz qualquer alusão à sorte reservada a esse exame de consciência que machucará, que ofenderá os intelectuais, tanto quanto a populaça, e que deixará em todos uma dolorosa impressão.
Sim. Nós o sabemos!
Assim, ó leitor, quem quer que sejas, intelectual ou artista, este livro vai perturbar — ainda que por um instante — a boa opinião que tu tens de ti mesmo. Ele espantará essa convicção íntima de que tu és sábio, prudente, racional. É pouco agradável ouvir-se dizer que se é estúpido, e é muito mais desagradável ainda receber a demonstração.
Mas não se trata de apresentar, à maneira de Watteau ou de Florian, pastores de ópera. Os camponeses de La Bruyère não têm cajados enfeitados com fitas, e estimo, com o velho mestre, que toda verdade é boa de se dizer, por amarga e decepcionante que seja.
Charles Richet
Observações.: A obra está disponível nos Classiques des Sciences Sociales.
Mas tal elogio é manifestamente injustificado, porque o homem acumula em si abundantes exemplos de extraordinária estupidez, tantos, que deveria, — para conformar-se à realidade das coisas, — denominar-se de outro modo, e dizer: homo stultus, o homem estúpido.
Quando concordarmos em empregar uma classificação zoológica séria, será necessário adotar esse termo.
Nesse breve ensaio, estabelecemos — ou, ao menos, tentamos estabelecer — que o homem é inferior à maior parte das espécies animais, seja pelo bom senso, seja pela sabedoria. Parece-me mesmo que teríamos o direito de classificá-lo como homo stultissimus, o homem estupidíssimo.
Todavia, para ser moderado, contentar-nos-emos em dar-lhe — sem superlativo — o apelido que lhe convém: homo stultus, homem estúpido. E daremos as provas de sua imensa e irremediável estupidez.
O autor não faz qualquer alusão à sorte reservada a esse exame de consciência que machucará, que ofenderá os intelectuais, tanto quanto a populaça, e que deixará em todos uma dolorosa impressão.
Sim. Nós o sabemos!
Assim, ó leitor, quem quer que sejas, intelectual ou artista, este livro vai perturbar — ainda que por um instante — a boa opinião que tu tens de ti mesmo. Ele espantará essa convicção íntima de que tu és sábio, prudente, racional. É pouco agradável ouvir-se dizer que se é estúpido, e é muito mais desagradável ainda receber a demonstração.
Mas não se trata de apresentar, à maneira de Watteau ou de Florian, pastores de ópera. Os camponeses de La Bruyère não têm cajados enfeitados com fitas, e estimo, com o velho mestre, que toda verdade é boa de se dizer, por amarga e decepcionante que seja.
Charles Richet
Observações.: A obra está disponível nos Classiques des Sciences Sociales.