O perigo das novas democracias é a dificuldade crescente, para os homens de pensamento, de escaparem à obsessão da agitação fascinadora. É penoso descer em sino de mergulho num mar muito agitado. As individualidades dirigentes que nossas sociedades contemporâneas põem em relevo são, cada vez mais, os escritores que vivem com elas em contínuo contato; e a ação poderosa que eles exercem, preferível, seguramente, à cegueira das multidões acéfalas, é já um desmentido infligido à teoria das massas criadoras. Mas isso não é bastante, e, como não é suficiente difundir, em toda parte, uma cultura média, e é necessário, antes de tudo, elevar sempre mais alto a alta cultura, podemos, com Sumner Maine, preocuparmo-nos já com a sorte que terão, amanhã, os últimos intelectuais, dos quais os serviços, com longos vencimentos, não surpreendem os olhos. O que preserva as montanhas de serem arrasadas e transformadas em terras cultiváveis, em vinhas ou em alfafa pelas populações montanhesas não é, de modo algum, o sentimento pelos serviços prestados por esses castelos naturais; é, simplesmente, pela solidez de seus picos, pela dureza de sua substância, muito difícil de dinamitar. O que preservará da destruição e do nivelamento democrático as sumidades intelectuais e artísticas da humanidade não será, eu temo, o reconhecimento pelo bem que o mundo lhes deve, a justa estima do preço de suas descobertas. Que será, pois?... Eu quereria acreditar que será sua força de resistência. Cuidado, se vierem a se desagregar!
G. Tarde.