15 de dezembro de 2008

Tardianas

Mas eu acrescento que seria um erro profundo fazer honrar as coletividades, mesmo sob sua forma a mais espiritual do progresso humano. Toda iniciativa fecunda, definitivamente, emana de um pensamento individual, independente e forte; e, para pensar, é necessário isolar-se, não apenas da multidão, – como diz Lamartine, – mas do público. É isto que esquecem os grandes aduladores do povo tomado em massa, e eles não se dão conta da espécie de contradição que está implicada em suas apologias. Porque eles não testemunham, em geral, tanta admiração pelas grandes obras soi-disant anônimas e coletivas, senão para exprimir seu desprezo pelos gênios individuais diferentes do seu. Também é de notar que esses célebres admiradores das unânimes multidões, depreciadores, ao mesmo tempo, de todos os homens em particular, têm sido prodígios de orgulho. Ninguém, mais que Wagner, exceto Victor Hugo, após Chateaubriand talvez e Rousseau, professou a teoria segundo a qual “o povo é a força eficiente da obra de arte” e “o indivíduo isolado nada saberia inventar, mas poderia apenas apropriar-se de uma invenção comum”. Essas admirações coletivas, que não custam nada ao amor próprio de ninguém, são como sátiras impessoais que não ofendem ninguém, porque se endereçam a todo mundo indistintamente.
G. Tarde