21 de dezembro de 2008

Nós, Déspotas.

Despotismo é uma tendência e talvez mesmo um componente nosso. É humano, integra o homem sempre que ele se vê desfrutando de um poder qualquer. Poder também é um tipo de paixão exercida de múltiplas formas, de acordo com cada governante, desde o reizinho do asteróide do Pequeno Príncipe até as crianças diante dos insetos, e os Napoleões, e os Alexandres, e os Césares e os Sesóstris. Amorfos, porém, escapam disso. Amorfos nunca são despóticos, por exemplo. Mas a maioria de nós o é, numa ou noutra fase da vida, seja manejando exército de soldadinhos de chumbo, seja dirigindo uma empresa, seja fantasiando o cachorro de Papai Noel e conferindo-lhe humanidade, seja mesmo se colocando como guia, exemplo, guru ou proprietário de verdades reveladas.
Todos nós temos, enfim, nossos momentos de déspota, de roubar cenas e brilhar no cenário da vida. Alguns se viciam nisso, e sentem-se insultados quando não são reconhecidos como tais, ou quando o seu fascínio falha, e percebe-se então que o rei sempre esteve nu, porque a realeza passa, a beleza passa, o poder passa e mesmo as verdades mudam quando convém.
Felizmente, não somos sempre os mesmos ao longo do tempo. E até as paixões e mesmo o poder deixam de fascinar um dia, e se acabam, mudam de rumo ou sofrem desvios, viram rotina e acomodação, sofrem desgastes. E no final, — no tão esperado e temido THE END que já está escrito na história de todos nós, — seremos igualados mediante o império da mais democrática das revoluções que é a própria Morte. Essa sim, induvidosamente, nos vai igualar a todos, por mais ostensivo ou simplório que seja o túmulo: pirâmide, lápide ou vala comum.