Vou postar alguns textos de Richet que selecionei traduzi da obra intitulada O Homem Estúpido. Assim, não custa expor aqui alguns dados biográficos.
Charles Robert Richet era filho de um cirurgião. Ele nasceu em Paris, em 26 de agosto de 1850 e ali morreu em 04 de dezembro de 1935, sem assistir integralmente ao espetáculo da II Grande Guerra, detalhe providencial talvez. Ainda enquanto estudante, assistiu aos cirurgiões Léon Clément le Fort (1829-1893) e Aristide Auguste Stanislas Verneuil (1823–1895). Porém, servindo como interno em hospitais em 1872, iniciou experimentos relacionados ao hipnotismo. Durante os dois anos seguintes, produziu numerosos transes em pacientes. Foi ele quem cunhou o termo metapsíquica para a pesquisa parapsicológica. Esta experiência provavelmente o influenciou a abandonar a cirurgia e devotar-se à fisiologia.
Foi no campo desta estranha metapsíquica e do estudo dos fenômenos paranormais que Richet tornou-se mais conhecido entre nós como entre seus contemporâneos. Sua obra veio a coroar as investigações mais ou menos convergentes recolhidas ao longo de setenta anos. Seu Traité de Métapsychique, editado em Paris, 1923 por Felix Alcan, obra esta que infelizmente eu ainda não tenho, embora já a tenha manueseado, resume o conhecimento da época nesse campo. Richet, ao longo de toda sua vida, interessou-se vivamente pelos fenômenos ditos paranormais, tornando-se presidente do Instituto Metapsíquico Internacional de Paris e mantendo estreitas relações com metapsiquistas de todo o mundo. Firme adversário da hipótese espiritista, aportou a estas investigações — de caráter tão especial — toda a sua lealdade, vigor, clareza mental, tudo quanto distinguiu sempre, de modo marcante, o seu trabalho. Sua obra comprometeu indiretamente a própria metapsíquica, desferindo-lhe um golpe do qual não se recuperou jamais.
Chamado muitas vezes a investigar fenômenos curiosos, como o aparecimento de fantasmas, nada escapava ao sábio. Pode-se imaginar sua atuação frente ao famoso caso da Villa Carmen, de Argel, onde a médium, uma tal Marthe Béraud, jovem de excelente sociedade, produzia, no ano de 1904, a aparição de um fantasma chamado Bien Boa, fantasma de bigodes que circulava em torno dos assistentes envolto num manto branco e que se desmaterializava sobre o piso. O caso provocou a edição de mais um livro do Dr. Richet: Les Phénomènes Dits de Matèrisation de la Villa Carmen (Os Fenômenos Ditos de Materialização da Villa Carmen), Bureau dos Anais de Ciências Psíquicas, Paris, 1906, onde teceu sérias objeções a respeito do fenômeno.
Em 1878 Richet foi nomeado professor agregado da Faculdade de Medicina. Foi professor da Universidade de Paris, Sorbonne, de 1887 a 1927.
Foi um homem de muitos talentos e interesses. Pesquisador da fisiologia, escritor, atraído pela aviação. Participou, inclusive do desenho e da construção de um dos primeiros aviões. Dedicado pacifista, procurou demonstrar os malévolos efeitos da guerra, publicando trabalhos sob o pseudônimo de Charles Epheyer. Escreveu também sobre filosofia, poesia e drama. Durante a I Guerra, no fronte, investigou problemas relacionados à transfusão de plasma sangüíneo. Em 1926, recebeu a Cruz da Legião de Honra.