Ribot escreve: “Os amorfos são legião. Entendo por isso aqueles que não têm forma que lhes seja própria; são caracteres adquiridos. Neles, nada de inato; nada que se pareça a uma vocação; a natureza os fez plásticos ao excesso. Eles são integralmente o produto das circunstâncias, de seu meio e da educação que receberam dos homens e das coisas. Um outro ou, na falta deste outro, o meio social, quer por eles e age por eles. Não são uma voz, mas um eco, são isto ou aquilo ao sabor das circunstâncias. O acaso decide de sua profissão, de seu casamento e do resto: uma vez presos na engrenagem, eles fazem como todo mundo.” E mais adiante Ribot acrescenta: “Os instáveis são os dejetos e a escória da civilização, e pode-se acusá-la, a justo título, de multiplicá-los. Eles são a antítese completa de nossa definição, não tendo nem unidade, nem permanência. Caprichosos, cambiantes de um instante ao outro, ora inertes, ora explosivos; incertos e desproporcionais em suas reações, agem da mesma maneira em circunstâncias diferentes e diferentemente em circunstâncias idênticas. Eles são a indeterminação absoluta. Formas mórbidas, em graus diversos, que exprimem a impossibilidade das tendências e dos desejos em atingir a coesão, a divergência, a unidade.”
Bem, gosto da frase que diz que, visto de perto, ninguém é normal. Divertido a gente se identificar nessas descrições tão realistas. Brincadeiras à parte, é um livro escrito com vigor, maestria, delicioso de ler, seja pela qualidade do texto, seja porque é cheio de informações e detalhes sobre personagens históricos, aí analisados do ponto de vista do desempenho de seu papel frente às multidões, coisa que vai de Sarah Bernhardt a Napoleão Bonaparte.
Ah, não posso omitir que este livro, uma verdadeira raridade, foi mais um dos muitos presentes que ganhei do Rogério. Desconfio muito de que ele conhece bem o meu fraco por ácaros e traças, especialmente os franceses.