17 de setembro de 2008

407

Era uma vez uma sala que deveria servir para escritório de advocacia. No entanto, nunca consegui deixar isso com jeito de escritório, porque acabou por se tornar o lugar para onde trouxe meus livros, revistas, arquivos, coisas e mais coisas que fui colecionando ao longo da vida. Tem quadros, papéis, originais de poesias que nunca mostrei a ninguém, fotografias de todos os falecidos da família, quadros pintados por mim, relógios parados, pratos de parede que foram de minha avó Josephina Mazzalli Bleggi, fora a poeira, os ácaros, as traças e, naturalmente, habitantes misteriosos, duendes acho, que às vezes escondem livros ou os misturam, trocando-os de lugar nas prateleiras. Fora os fantasmas dos escritores. Todos vivendo aqui, onde encontram repouso e muito afeto, carinho e atenção. Tem livros dos quais quase ninguém mais se lembra e ainda almanaques antigos, tudo com papéis por dentro, listas de compras, santinhos, bilhetes, recortes e margens anotadas, palavras sublinhadas, textos marcados por mim ou por outros aos quais eles já pertenceram. É a 407. Misteriosa, diz quem passa pelo corredor do prédio comercial e espia aqui para dentro, observando os quadros, os móveis velhos, as estantes repletas de livros já em fila dupla. Perguntam se aqui se vê a sorte, se sou cartomante, se vendo quadros, se compro livros... Enfim, a 407 é mesmo o lar das Traças, Ácaros & Cia.
Bem-vindos, leitores.