25 de setembro de 2008

AS CARTAS I


Esta será a primeira de várias postagens que eu vou chamar de AS CARTAS. Será uma história epistolar que vou colocar aqui aos poucos, sempre com um número romano indicando a ordem dos arquivos enviados. Com o tempo, quem quiser ver tudo e ler tudo o que estiver publicado aqui, vai na ferramenta que está na barra superior (pesquisar blog) e chama por elas: AS CARTAS. Creio que as postagens vão aparecer em ordem cronológica, e os leitores vão poder saber do caso, embora não os dados precisos das pessoas envolvidas, todas mortas. É a correspondência de Francisco dirigida a Maria, a mulher por quem ele se apaixonou ainda muito jovem. As primeiras cartas são dos anos 20. Eles ficaram noivos só em 1932, porque se tratou de um romance aparentemente contrariado.
Todos os papéis que dão testemunho destes fatos acabariam no lixo, não fosse um querido amigo meu, o Beto, guardá-los por muito tempo. Ele possuia um brique aonde eu ia quase todos os dias, pois ficava pertinho da minha casa. Nos tornamos grandes amigos nesta época, há muitos anos. Ele trabalhava com antiguidades, porcelanas, cristais, livros e todas as tralhas que, em geral, vão parar nessas lojas. Um dia, quando estava por se mudar dali, ele me chamou: "Maristela, vem cá que tenho uma coisa pra ti", disse ele, muito sério. Fomos até a parte dos fundos da loja e ele, então, entregou-me uma sacola plástica, empoeirada e amarrada, dizendo que ali havia coisas que ele não queria mais guardar, mas que achava que estariam melhor se ficasssem nas minhas mãos. Foi um presente dado com muito carinho. Não explicou mais nada na hora, mas sorriu pra mim com certa cumplicidade. Em casa, mais tarde, abri a sacola com cuidado, curiosa para saber o que era aquilo. Descobri então que eram cartas, cartas de amor e, entre surpresa e emocionada, fui lendo e me encantando com uma história verdadeira, que aconteceu aqui em Porto Alegre. Impressionante constatar ainda o imenso talento deste Francisco como escritor e poeta, e o amor profundo que devotou à sua Maria durante tantos e tantos anos.
Foi a minha vez de guardar os papéis. Arrumei lugar para tudo, e tenho comigo as tais cartas há muitos anos, e mais recortes, fotos, cartões, santinhos, telegramas, fitas e demais objetos que estavam na tal sacola, coisas que me inspiram um profundo respeito pelo que significaram um dia àqueles a quem pertenceram. Esta semana abri a caixa e selecionei as cartas, colocando-as em ordem cronológica por décadas. São dos anos 20 e 30. E há as dos anos 40 e 50 também, que envolvem pessoas próximas do casal. Um cartão de Natal de 1961 dá contas de que Francisco e Maria se casaram.
Agora que disponho deste espaço não vejo razão para manter tudo isso sepultado juntamente com seus personagens que, não importa quem tenham sido, viveram uma vida única e irrepetível, e tiveram uma história da qual seremos eu e vocês, leitores, os herdeiros e as testemunhas.