28 de setembro de 2008

AS CARTAS III



Poema de Francisco para Maria escrito no dia 25 de maio de 1923 e intitulado Cantique d'Amour.
Oh! Amar somente pela alegria de amar.
No entanto, é dolorosa essa alegria,
acerbo esse prazer que se goza num dia
no infinito volver do teu olhar.
Acerbo esse prazer
que brilha sempre no teu sorrido divino,
na tua linda voz de veludo, que é um hino
de faiança, que faz amar e padecer...

Amar — que encanto,
que sonho, que alegria deliciosa!
é minha vida...
E se um dia, querida,
tu me vires sorrindo, e nos olhos o pranto,
como um triste precito abandonado,
a cumprir pelo mundo o negro fado
por teus régios dedos traçado,
não me consoles, não. Ri, ri bastante
teu sorrido de luz, de prata, deslumbrante!...
E, após, deixa-me só, como um palhaço, amor,
dissimulando num sorriso a minha dor...

-XXV-V-MCMXXIII

Observações:Este poema aparece também em uma página escrita à máquina, precedido de uma citação em francês e ao final assinada por Francisco, com a observação outono de 1925. A versão da foto, escrita com lápis de cor azul, não está assinada.