14 de abril de 2009

Mais de Lombroso

Surpresa com o retorno, resolvi disponibilizar agora o prefácio da obra O HOMEM DELINQUENTE. Integral e com notas, para quem quiser, aqui no blog, ali nas Minhas Coisas.
É só baixar do Scribd.

10 de abril de 2009

O Livro que Mudou o Direito Penal

Existem pessoas que nascem predestinadas ao crime?
E esses indivíduos, trariam eles estigmas denunciadores dessa condição, de forma a nos permitir descobri-los entre as pessoas ditas honestas?
Existe o criminoso nato?
Pode-se reconhecê-lo mesmo antes que pratique seus crimes?
O Homem Delinquente, o livro de Lombroso que mudou o Direito Penal, tem lá a sua história. Notas sobre isso estão agora aqui no Blog, lá nas Minhas Coisas. É só baixar do Scribd.

Assim Falava Zaratustra


Torna-te aquilo que és!

Não se deve querer ser o médico dos incuráveis.

De tudo o que está escrito, não leio senão o que alguém escreve com seu sangue. Escreve com teu sangue: e verás que o sangue é espírito.

Desconfia dos bons e dos justos. Eles gostam de crucificar aqueles que inventam sua própria virtude. Eles odeiam o solitário.

A certos homens tu não deves dar a mão, mas somente a pata: e eu quero que a tua pata tenha também garras.

20 de março de 2009

Triunfo de Vênus

Este quadro chama-se Alegoria do Triunfo de Vênus e deve ter sido pintado por volta de 1540-5. Seu autor é Ângelo Bronzino. A obra pertence à National Gallery. Cada detalhe foi pintado com extremo cuidado, e não é incomum encontrarmos esses mesmos detalhes mostrados sem referência ao todo original, assim como ocorre muito comumente com o Ciúme, que aparece ao fundo, à esquerda, também identificado por alguns como o Arrependimento.
A mulher que domina a cena é Vênus, a deusa do amor, que beija cupido, seu filho, com lascívia, figurando o Incesto, tolerado entre os deuses e condenando entre os homens. Ela segura uma maçã, fruto que aqui representa o pomo da discórdia. Cupido corresponde ao beijo e toca o peito da mãe, passando de filho a amante. A figura do menino que espalha pétalas de rosas com ambas as mãos, parecendo dirigir-se ao casal, é uma personificação da Loucura. Observem que no tornozelo da criança há uma cascavel com a qual ela parece não se importar. Atrás deste menino-loucura, aparece uma linda menina com corpo de cobra e escorpião. Ela oferece um favo de mel, ao mesmo tempo em que esconde um ferrão. Esta linda menina representa o Engano. O Tempo aparece afastando a cortina que expõe a cena. O Esquecimento também aparece, faltando a parte de cima da cabeça, em disputa com o Tempo por causa da cortina. Pensam alguns que isso poderia significar o efeito retardado da sífilis que naquela época estava se espalhando. Daí a figura do ciúme também, neste quadro, ser identificada com a sífilis. Seja como for, o quadro é uma impressionante alegoria. A imagem que consegui para esta postagem está em alta resolução e pode ser ampliada com um clique do mouse.

Quem diria!

"Em todos os tempos e em quase todos os povos a castidade tem sido uma das virtudes mais eminentes, a que mais aproxima o homem da perfeição".

8 de março de 2009

AS CARTAS XVIII

Carta de Francisco para Maria de 05 de outubro de 1924.

Maria,
Deu-me vontade de dizer-te qualquer coisa em verso, e aí vai, então, nada quase na velha forma do soneto.
Acordei criança hoje. Ao abrir os olhos ao esplendor da manhã, comoveu-me a sua beleza. Quase chorei de alegria. Ri, depois. Ri perdidamente, sem saber por que. Ri, porque o sol ria, porque a manhã ria, porque a natureza toda ria, na divina alegria do despertar. Os pássaros, nos ramos, cantavam a glória da alvorada. E o pouco de criança que nós trazemos n’alma sempre vibrou em mim com a intensidade e a pureza dos seus primeiros anos. Quisera ser sempre assim, toda vida! Rir, feliz, de tudo. Eterna criança a encontrar um motivo de prazer em tudo. Mas os anos vão avançando. Da criança descuidada que era, surge o homem com a fisionomia ensombrada pelos dissabores. A fatalidade da beleza, na forma da mulher, e as misérias humanas se lhe deparam com toda a sua força de ação consciente ou inconsciente. E a tristeza, então, lhe enruga a alma. E a alegria já lhe é mais esquiva. E, homem, aos golpes das desilusões, põe-se a descrer. Torna-se céptico. A vida é assim.
Grande saudade do teu
Francisco
V-X-MCMXXIV

Contradições

Queres que eu creia em ti? Pois bem, querida, eu creio.
E esta dúvida má, que me arrasta, e assassina
toda a minha alegria efêmera e divina,
eu matarei na fonte donde ela proveio.

Sei que me amas. Bem sei também que tens no seio
a luminosa flor de uma amizade fina
que faz minha ventura, e, entanto, me alucina,
pois de tanto em ti crer, eu já quase descreio.

Porém, mesmo escondendo o mal entre as raízes,
tu és o único bem da minha mocidade,
pois me tornaste o ser do mundo o mais feliz.

E eu creio em teu amor e creio no que dizes,
mas creio mais em tudo o que, por ser verdade,
por isso mesmo, a tua boca nunca diz...

Teimosia Masculina



27 de fevereiro de 2009

Pele de Asno

Tarde de sexta-feira, deveres cumpridos, telefone sossegado e na paz da 407. Nada melhor que percorrer as minhas estantes e empoeirar as mãos. Vadiando pelos livros, abro Pele de Asno de Balzac e reencontro tantas passagens que sublinhei quando pela primeira vez li este estranho romance místico do incomparável gênio. Ah! Ali diz que um homem não é inteiramente miserável quando ele é supersticioso, porque uma superstição é freqüentemente uma esperança...
Como é bom marcar os livros tão amados, anotar as suas margens, grifar palavras, distribuir setas e exclamações. Eu me encontro comigo mesma quando revejo essas passagens destacadas, como se uma secreta sabedoria me fizesse ali postar recados para mim mesma. Tempos depois, encontrar os traços de uma inspiração, aviso ou promessa. Acho que hoje o ocaso me trouxe justamente a este livro, porque foi ele o que, não sem dificuldade, li durante um carnaval de repouso forçado há uns quatro anos. Nele há a descrição de um velho. E de um talismã. Procuro. Mas encontro outra coisa no capítulo dedicado à mulher sem coração, mulher que descubro descrita pelo personagem que escreve na primeira pessoa: Ela me recebe com esta fria polidez que dá aos gestos e às palavras a aparência de um insulto. Ah! Não era isso. Hoje as mulheres ficaram para Nietzsche aqui nos Ácaros. Queria encontrar era a descrição do velho antiquário onde a misteriosa pele de asno aparece no romance. Encontro.
Balzac criou-o seco e magro, vestiu-o com uma roupa de veludo negro fechada por cordão de seda preso em torno dos rins. Sobre a cabeça, uma boina também de veludo negro, da qual escapavam mechas de cabelo branco. Tinha ele uma fineza de inquisidor. Era impossível enganá-lo, pois parecia ter o dom de surpreender os pensamentos no fundo dos mais discretos corações. Assegura-nos Balzac que, ao olharmos para este eremita, encontraríamos nele a tranquilidade de um Deus que tudo vê, ou a força orgulhosa de um homem que viu tudo. O misterioso talismã impressiona. O velho explica que a indústria do levante tem segredos que lhe são particulares.
Na pele havia gravada, em caracteres de escrita oriental, esta estranha passagem, disposta com destaque em forma de um triângulo invertido: SE TU ME POSSUÍRES, POSSUIRÁS TUDO. MAS TUA VIDA ME PERTENCERÁ. DEUS O QUIS ASSIM. DESEJA, E TEUS DESEJOS SERÃO REALIZADOS. MAS REGRA TEUS SONHOS PELA TUA VIDA. ELA ESTÁ AÍ. A CADA QUERER, ENCURTAREI TEUS DIAS. TU ME QUERES? TOMA-ME. DEUS TE CONCEDERÁ. SEJA!
O romance prossegue, contando-nos uma das mais belas histórias sobre a realização mágica de nossos desejos, ― magia da qual todos somos capazes, ― sobre poder e realização que aparecem numa trama aparentemente comum que vem, todavia, permeada de mistérios, romance e estranhas coincidências. Pertenceremos a nós mesmos ou aos nossos desejos? Essa tocante história é uma das mais geniais análises do querer e da ousadia das realizações. Da sabedoria que daí resulta, aprendizado silencioso e profundo.
Quanto sou grata à generosidade de Balzac. Tenho a nítida sensação de que ele, eternamente presente em sua obra, me inspira e me concede ainda o dom de poder admirá-lo.

Do Crepúsculo dos Ídolos

Desconfio de todas as pessoas com sistemas e as evito. A vontade de sistema é uma falta de lealdade.

Dizem que a mulher é profunda ― por quê? ― se nela jamais chegamos ao fundo. A mulher não chega a ser nem mesmo plana.

O homem criou a mulher ― com que, afinal? ― Com uma costela de seu deus ― de seu "ideal"...

Entre mulheres. ― "A verdade? Oh, não conheces a verdade! Não é ela um atentado contra o nosso pudor?"

Que importa que eu tenha a razão? Tenho razão demais. ― E ri melhor hoje quem ri por último.

Nietzsche

O Nascimento de uma Idéia

Não há regras a dar para fazer nascer em um cérebro, a propósito de uma observação dada, uma idéia justa e fecunda que seja, para o experimentador, uma espécie de antecipação intuitiva do espírito na direção de uma pesquisa feliz. A idéia, uma vez emitida, pode-se apenas dizer como se deve submetê-la a preceitos definidos e a regras lógicas precisas, das quais nenhum experimentador saberia afastar-se; mas sua aparição é sempre inteiramente espontânea, e sua natureza, inteiramente individual. É um sentimento particular, um quid proprium que constitui a originalidade, a invenção ou o gênio de cada um. Uma idéia nova aparece como uma relação nova ou inesperada que o espírito percebe entre as coisas. Todas as inteligências se parecem sem dúvida, e idéias semelhantes podem nascer entre todos os homens quando de certas relações simples entre objetos que todos podem compreender. Mas, como os sentidos, as inteligências não têm todas o mesmo poder nem a mesma acuidade, e há relações sutis e delicadas que só podem ser sentidas, compreendidas e desveladas pelos espíritos mais perspicazes, melhor dotados ou colocados em um meio intelectual que os predisponha de uma maneira favorável.
Claude Bernard

Coisas Doces

25 de fevereiro de 2009

Palavras Desacreditadas

Fora com esses termos otimismo e pessimismo, usados até o enfado! Pois, o motivo para empregá-los falta sempre mais dia após dia: somente aos faladores é que hoje são ainda inevitavelmente necessários. De fato, por qual motivo no mundo haveria alguém de querer ser otimista, se não tem mais razão alguma para fazer apologia de um Deus que deve ter criado o melhor dos mundos, sendo ele próprio o bem e a perfeição? Qual é o ser pensante que ainda precisa da hipótese de um Deus?
Mas também falta qualquer motivo para uma profissão de fé pessimista, se não se tiver interesse em contrariar os advogados de Deus, os teólogos ou os filósofos teologizantes e expor vigorosamente a tese contrária: que o mal reina, que o desprazer é maior que o prazer, que o mundo é uma obra mal feita, a manifestação de uma má vontade para com a vida. Mas quem se preocupa ainda com os teólogos? ― Excetuando os teólogos? ― Abstração feita de toda a teologia e de uma guerra contra ela, é evidente que o mundo não é bom nem mau, bem longe igualmente de ser o melhor ou o pior, e que esses conceitos de bom e de mau só tem sentido com relação aos homens e que até da maneira como são habitualmente empregados talvez mesmo neste caso não se justifiquem: a concepção do mundo injuriosa ou enaltecedora é coisa de que temos em todo caso de renunciar.
Nietzsche
Humano, demasiado humano.

22 de fevereiro de 2009

Honestamente...

AS CARTAS XVII


Carta de Francisco para Maria de 30 de setembro de 1924.
Maria,
Afastado de ti, mas não separado, que isso é impossível, eu sofro à míngua da sensação física do teu amor, sem as projeções afetivas do teu ser amante e amado. Que eu te amo muito! E sem a carícia de veludo dos teus olhos, sem o perfume matinal e bom do teu corpo, sem o prazer amável do teu contato, sem a harmonia musical da tua voz, longe de ti, enfim, eu não vivo, porque tu és a fonte da minha vida. E eu vivo para amar. Vim ao mundo para não fazer outra coisa que não seja amar. E não só amar, mas sentir o amor. E esta é a maneira suprema de viver a vida, através do amor em todas as suas cambiantes de alegria e dor, prazer e alegria. E, eu creio, o amor é o mais alto motivo de viver dos homens. Nasceram dele, e por ele vivem.
Doente, criei o meu universo próprio, cheio de recordações de um passado na aparência remoto, e tu és o centro desse universo. Para esse centro convergem todas as manifestações da minha vida, a vida do teu
Francisco

PS.: Recebeste a minha carta datada de 24, 25 ou 26 do corrente? Responde-me. 30-09-1924.

11 de fevereiro de 2009

Wilhelm Stekel (1868-1940)

Este psiquiatra austríaco, colaborador de Freud, Jung e Adler, foi também um talentoso escritor, dispensando o emprego da linguagem técnica, de sorte que ao lermos os seus livros temos a impressão de estarmos diante de um romancista talentoso.

"A vontade de viver exige pesadas tarefas: a renúncia aos sonhos. Exige também nosso esforço para sentir e configurar artisticamente a coisa em si, a nua realidade, a arte, a natureza e a vida. Para isso vive o homem: para forjar sua vida, cultivar suas habilidades e adaptá-las à realidade de sua existência, amar e sofrer, vencer e ser vencido, esperar sem medo o fim no qual seu romance cheio de segredos se perde na verdade do infinito".
W. STEKEL, La voluntad de vivir.

Simone de Beauvoir (1908-1986)

Da polêmica companheira de Sartre, em La Force de L’Age, Gallimard, Paris, 1960.

Nós não pertencemos a nenhum lugar, a nenhum país, a nenhuma classe, a nenhuma profissão, a nenhuma geração. Nossa verdade está além. Ela se inscreve na eternidade e o amanhã a revelará: nós somos escritores.


O surrealismo me marcou, porque eu encontrei nele uma espécie de sobrenatural...
O mundo se abriu em um novo dia no instante que eu vi, no trabalho, a fonte e como que a substância dos valores. Nada jamais me fez renegar esta verdade, nem as críticas que suscita em mim o fim do "Capital", nem aquelas que encontrei nos livros, nem as doutrinas sutis dos eonomistas mais recentes.