Não há regras a dar para fazer nascer em um cérebro, a propósito de uma observação dada, uma idéia justa e fecunda que seja, para o experimentador, uma espécie de antecipação intuitiva do espírito na direção de uma pesquisa feliz. A idéia, uma vez emitida, pode-se apenas dizer como se deve submetê-la a preceitos definidos e a regras lógicas precisas, das quais nenhum experimentador saberia afastar-se; mas sua aparição é sempre inteiramente espontânea, e sua natureza, inteiramente individual. É um sentimento particular, um quid proprium que constitui a originalidade, a invenção ou o gênio de cada um. Uma idéia nova aparece como uma relação nova ou inesperada que o espírito percebe entre as coisas. Todas as inteligências se parecem sem dúvida, e idéias semelhantes podem nascer entre todos os homens quando de certas relações simples entre objetos que todos podem compreender. Mas, como os sentidos, as inteligências não têm todas o mesmo poder nem a mesma acuidade, e há relações sutis e delicadas que só podem ser sentidas, compreendidas e desveladas pelos espíritos mais perspicazes, melhor dotados ou colocados em um meio intelectual que os predisponha de uma maneira favorável.
Claude Bernard