Carta de Francisco para Maria de 25 de setembro de 1924.
Maria,
A tua carta, fosse ela “medicinal”, e eu estaria curado do meu mal orgânico, como por ela estou de um mal sentimental... Interrogas... Direi: “Não é nada...” Dirás: “São os nervos...” Que sejam... O que importa é que eu o esqueça. E isto é fácil, na fuga vertiginosa do tempo, que sepulta depressa as nossas emoções as mais vivas. Tudo passa na vida... E isso é um bem, que, não raro, esconde uma tristeza: a tristeza do fim... Falas na minha enfermidade. Culpas-te, injustamente, da minha recaída. Nada mais falso. Se há culpado, o único sou eu. E nem sei se eu ou a moléstia mesma, por sua rebeldia. Entretanto, estou resignado. Demais, quase já tenho como natural esta posição, na cama, nada natural. É um estado anormal que se normaliza. Mas que Deus não permita que ela se efetive! E que ele não ouça também tanta doidice. Tenho que, no tempo de quinze dias, estarei restabelecido, usando, como usarei, com um rigor religioso, os teus conselhos. “Tudo pela minha dama!” A vida, ou a morte! E, em amor, querida, o morrer é viver eternamente por ele.
E me advertes, com filosofia, que “a saúde é a maior riqueza”. Por isso mesmo que a desprezo e maltrato. Eu sou liberal... Ah!... Perdoa-me, meu amor. Perdoa-me a ironia. Ela me atraiçoou, e fugiu pela pena. Não foi por querer.
Quando cheguei ao fim da tua carta, não fiz “cara feia”, mas sorri. E do meu sorriso caiu um beijo que envolveu o teu nome, e vai vestida de amor a mão que o escreveu, a mão que tem o meu sonho,
o sonho do teu
Francisco