9 de junho de 2024

Adúlteras na Literatura: Júlia, Emma, Capitu e Luísa

Vou partir dos clássicos. Júlia, a encantadora protagonista de "A Mulher de Trinta Anos" de Honoré de Balzac, nos é retratada como uma figura marcada por virtudes e fraquezas. Sua busca por paixão e romance muitas vezes a leva a tomar decisões impulsivas e arriscadas. Romântica e apaixonada, Júlia é capaz de grandes gestos de amor e sacrifício, mas é também vulnerável às pressões sociais e às expectativas dos outros. Emma Bovary, de Gustave Flaubert, “Madame Bovary”, publicada pela primeira vez em 1857, é retratada como uma mulher insatisfeita. Descontente da vida provinciana, ela tem sonhos românticos e busca fugir às rotinas de um casamento que considera entediante. Seus casos amorosos a induzem a extravagâncias financeiras. A enigmática Capitu, profundamente machadiana, tem sua honestidade questionada pelo narrador, Bentinho, em “Dom Casmurro”. Acusada de adultério, Capitu é complexa e multifacetada. Suas motivações e ações ensejam as mais diversas interpretações, o que a torna uma figura central na literatura brasileira. Por fim, a jovem e ingênua Luísa, passiva e vulnerável, manipulada pelo “Primo Basílio” no romance imortal de Eça de Queiroz. Ela dá a ver a fragilidade das convenções sociais e as consequências devastadoras do adultério em uma sociedade conservadora. 

Em comum, todas demonstram insatisfação e buscam a realização pessoal, seja através de romances proibidos, aventuras emocionais ou fantasias românticas, do resulta um conflito em relação aos seus deveres como esposas, mães e membros respeitáveis da sociedade. A temática do adultério é introduzida como uma forma de fugir à monotonia, à insatisfação ou à falta de paixão em seus casamentos, o que eventualmente leva a consequências significativas e, muitas vezes, trágicas. Destaque para as ambiguidades dessas heroínas que são também vilãs, especialmente em relação ao contexto social e cultural de seus respectivos tempos. Pertencentes à chamada classe média, foram todas mulheres “emergentes” a seu modo. Sua conduta, portanto, se mostrava necessariamente associada a valores conservadores, a uma moralidade rígida, que valoriza a família, virtude feminina e a fidelidade conjugal. 

Nesse contexto, o adultério cometido por mulheres da classe média, principalmente, representava uma violação gravíssima das normas sociais estabelecidas, uma forma de rebeldia e de subversão. Nesse contexto, examinar o adultério do ponto de vista dessas imortais personagens femininas nos faz entender melhor os dilemas pessoais e emocionais que elas enfrentaram, bem como as complexidades e contradições da sociedade em que viviam, marcada por hierarquias de gênero, por valores conservadores e por rígidas normas culturais.