17 de junho de 2024
A Marcha do Tempo
Gosto desse desenho. Talvez por conta do tempo que ele representa. As horas. A vida. Há momentos em que eu simplesmente presto atenção nele. O tempo. Eu o sinto apenas. Tem horas que não passa, quando, por exemplo, fora de mim, me deparo com algo que desejo muito eliminar. Esse congelamento pode ser desesperador. Desvio do alvo e passo a ficar atenta ao tempo. Imagino então, que quando ele passar, levará consigo aquele elemento perturbador, e vai deixá-lo lá atrás, para sempre, sepultado em um passado inapreensível de onde só eu posso retirá-lo, porém, na forma de memórias do ódio. Sim, há memórias do ódio, memórias da dor, como há memórias do esquecimento. Se você também flerta com o tempo, como eu, vai saber exatamente do que estou falando. Se não flerta, não saberá jamais, razão pela qual não vou explicar nada. Há horas, porém, como agora, precisamente. Agora mesmo: passada a meia-noite, em meio à tranquilidade dos mortos que me cercam de dentro dos livros. Sossego e paz da casa que desconhece o amanhecer. Silêncios da noite que vêm ter comigo, interrompidos apenas pelos sons amigos dos relógios. A marcha dos ponteiros, tão certeira e precisa. E eu aqui, escrevendo para todos e para ninguém. O tempo, que conjuga o verbo continuar, que continua espaços afora, sempre rumo ao nada que a gente deve saber transformar em coisas assim, como essas palavras. Se é que você me entende.