ERA UMA VEZ,
no tempo em que os animais falavam, uma fada muito bonita, de cabelos
longos e dourados, que morava em um castelo no meio de uma floresta, tendo
como companhia apenas um anãozinho que também era mágico, e que tomava
conta do castelo para ela. Uma fada poderosa, que vivia sozinha no
imenso castelo, com torres que tocavam as nuvens, e em cujas cercanias
havia um lindo bosque, depois uma mata e depois a floresta sombria,
escura, daquelas que tem até pântanos e feras. Tudo era habitado pelos
muitos animais viviam por ali, todos falando uma língua que podia ser
perfeitamente entendida pela fada, pois essa história se passa no tempo
em que havia entendimento entre homens e bichos, e no tempo em que a
magia também era acreditada e praticada livremente.
A fada cuidava
dos bichos todos que viviam na floresta, bichos que ela visitava
regularmente, todas as semanas. Numa manhã, pediu ao anãozinho mágico
que lhe separasse roupas com as quais visitaria a floresta, o que ele
prontamente fez, arrumando sobre a cama da fada um vestido cor de areia
muito simples, sem cauda, sapatinhos do mesmo tom, um lindo véu de
tecido finíssimo, véu que ia preso no alto do chapéu bicudo que todas as
fadas usam. Também separou uma cesta com merenda, uma cesta de vime,
de abrir por cima, onde estavam colocadas algumas guloseimas, inclusive
as deliciosas maçãs vermelhas do pomar do castelo. A fada, uma vez
pronta, vestida e tomando da cesta, desceu a longa escadaria do palácio e
partiu pelo caminho que levava ao bosque, munida, naturalmente, de sua
varinha mágica, coisa que levava com ela para toda parte onde ia.
Logo que se afastou do castelo, ao passar pelos jardins dos arredores, sua presença se fez sentir e começaram então a aparecer as borboletas. Milhares delas, de todas as cores, tamanhos e formatos, vinham de todas as direções para cumprimentar a fada e contar-lhe as novidades do bosque. Pousavam-lhe nos sapatos, no vestido, no véu e formavam assim um lindo séqüito que acompanhou a fada até a saída do bosque, onde a mata começava a ficar mais espessa.
Então, no que a fada deu os primeiros passos dentro da mata, começaram a surgir outros bichinhos de toda parte. Eram pássaros. De todas as espécies e de todas as cores, alguns trazendo flores no bico, como presentes que colocavam no caminho da fada, para agradá-la, demonstrando assim o seu carinho por ela. E, depois de conversar com cada um deles, deixando-se encantar por seus cantos e trinados, a fada seguiu seu caminho, penetrando ainda mais fundo na floresta, quando, então, começaram a surgir outros bichos. Desta vez , eram coelhos, gambás, macacos, cotias, tamanduás e muitos outros. Vinham todos conversar com ela, festejando sua presença em meio a eles, contando as novidades e tentando retê-la por ali, nos limites que separavam esta parte da mata da outra, a mais escura e profunda da floresta, onde nem todos os bichos penetravam, pela proximidade do pântano, trecho cheio de perigos e armadinhas, inclusive areias movediças.
A fada, porém, não se deixou deter e, depois de ouvir as histórias de cada um dos bichinhos que vieram ao seu encontro, seguiu em direção ao coração da floresta, não sem antes abrir a cesta repleta de iguarias que o anãozinho mágico havia colocado ali. Fez seu lanche em companhia dos amigos e, logo depois, prosseguiu, chegando à parte onde o sol pouco penetrava, dada a altura das árvores, detalhe que tornava aquele lugar sombrio e cheio de ruídos. Todavia, a presença mágica da fada trazia consigo uma luz que emanava tanto dela quando da estrela cintilante que ficava na ponta de sua varinha mágica, o que fez com que, uma vez mais, sua presença fosse notada também pelos habitantes da parte mais escura da floresta. E assim, tão logo chegou, vieram ao seu encontro as mais diversas espécies de animais, inclusive os répteis e as serpentes, aranhas, as feras selvagens e outros bichos cuja presença era incomum. Da mesma forma, vinham prestar homenagem à sua protetora, e com ela conversavam, contando histórias e procurando guiar seus passos na escuridão do caminho que, ali, tornava-se espesso e cheio de espinhos, fora os cipós que desciam do alto das árvores, formando grandes teias com seu emaranhado.
O final da tarde já se anunciava, e a fada deu-se conta de que a noite logo chegaria. Foi quando um som chamou sua atenção. Era uma espécie de choro. Vinha de algum lugar que não ficava longe dali e ela, pressentindo que havia muita angústia naquele miado longo e triste, apressou-se a seguir em direção ao som. Depois de algum tempo procurando, divisou alguns arbustos que se fechavam em volta do lugar de onde saia miado e, tentando afastar os galhos e as folhas que se fechavam, usou a varinha mágica para afastá-los e poder ver o que havia ali. Foi nesse instante que, sem querer, acabou fazendo com que sua varinha mágica tocasse em algo. Imediatamente, a fada viu o que era. Uma oncinha, muito pequena, estava perdida ali. Prendeu-se nos galhos e estava a chorar de fome e sede. Contudo, agora, depois de ser tocada pela varinha mágica da fada, tornou-se imediatamente toda dourada.
A fada logo entendeu o que se passara. Compreendeu que era um bichinho perdido, abandonado talvez e que agora, uma vez tornado dourado, não poderia mais viver ali no meio da floresta. Decidida, então, tomou da oncinha e, cuidadosamente, colocou-a dentro do cestinho de vime, e começou a sair da floresta.
Ora, os bichos, que não perderam nada do que acontecera, estavam todos perplexos. Em seguida, começou a correr pela floresta a novidade da adoção da oncinha perdida pela fada e, todos ficaram atentos à passagem dela pelo caminho de volta, segurando a cesta com firmeza, seguindo a passos firmes em direção castelo. A fada, assim, ia mostrando a todos os bichos a oncinha dourada, que sem querer, acabara se tornando um bicho encantado. Ia agora viver no castelo, em companhia da fada e do anãozinho mágico, porque, depois de ser tocada pela magia, a oncinha estava encantada para sempre, e teria de passar a viver uma vida diferente, reservada às coisas que a magia toca.
E foi assim que surgiu a oncinha dourada e assim termina essa história, com o bichinho perdido que foi encontrado pela fada.
NOTA:
Meu vô Bleggi (na foto, quando jovem) inventou esta história para mim, a neta querida para quem ele dava macãs raspadas. Como eu já conhecia muitas histórias dos livros e do Walt Disney, pedi a ele que inventasse uma que fosse feita só para mim. Daí ele inventou esta, sem esquecer das maçãs, é claro, que iam no cesto da fada e que eram as mesmas que eu comia: maçãs provindas do castelo da fada onde vivia a oncinha dourada.
Claro que isso é do tempo em que a imaginação tornava essas coisas todas perfeitamente críveis, e que nada era capaz de demover essa crença infantil no impossível, na verdade, uma maneira de ver o mundo, única capaz de inspirar a criação de lindas histórias. Como esta, criada para mim pelo meu avô.
Logo que se afastou do castelo, ao passar pelos jardins dos arredores, sua presença se fez sentir e começaram então a aparecer as borboletas. Milhares delas, de todas as cores, tamanhos e formatos, vinham de todas as direções para cumprimentar a fada e contar-lhe as novidades do bosque. Pousavam-lhe nos sapatos, no vestido, no véu e formavam assim um lindo séqüito que acompanhou a fada até a saída do bosque, onde a mata começava a ficar mais espessa.
Então, no que a fada deu os primeiros passos dentro da mata, começaram a surgir outros bichinhos de toda parte. Eram pássaros. De todas as espécies e de todas as cores, alguns trazendo flores no bico, como presentes que colocavam no caminho da fada, para agradá-la, demonstrando assim o seu carinho por ela. E, depois de conversar com cada um deles, deixando-se encantar por seus cantos e trinados, a fada seguiu seu caminho, penetrando ainda mais fundo na floresta, quando, então, começaram a surgir outros bichos. Desta vez , eram coelhos, gambás, macacos, cotias, tamanduás e muitos outros. Vinham todos conversar com ela, festejando sua presença em meio a eles, contando as novidades e tentando retê-la por ali, nos limites que separavam esta parte da mata da outra, a mais escura e profunda da floresta, onde nem todos os bichos penetravam, pela proximidade do pântano, trecho cheio de perigos e armadinhas, inclusive areias movediças.
A fada, porém, não se deixou deter e, depois de ouvir as histórias de cada um dos bichinhos que vieram ao seu encontro, seguiu em direção ao coração da floresta, não sem antes abrir a cesta repleta de iguarias que o anãozinho mágico havia colocado ali. Fez seu lanche em companhia dos amigos e, logo depois, prosseguiu, chegando à parte onde o sol pouco penetrava, dada a altura das árvores, detalhe que tornava aquele lugar sombrio e cheio de ruídos. Todavia, a presença mágica da fada trazia consigo uma luz que emanava tanto dela quando da estrela cintilante que ficava na ponta de sua varinha mágica, o que fez com que, uma vez mais, sua presença fosse notada também pelos habitantes da parte mais escura da floresta. E assim, tão logo chegou, vieram ao seu encontro as mais diversas espécies de animais, inclusive os répteis e as serpentes, aranhas, as feras selvagens e outros bichos cuja presença era incomum. Da mesma forma, vinham prestar homenagem à sua protetora, e com ela conversavam, contando histórias e procurando guiar seus passos na escuridão do caminho que, ali, tornava-se espesso e cheio de espinhos, fora os cipós que desciam do alto das árvores, formando grandes teias com seu emaranhado.
O final da tarde já se anunciava, e a fada deu-se conta de que a noite logo chegaria. Foi quando um som chamou sua atenção. Era uma espécie de choro. Vinha de algum lugar que não ficava longe dali e ela, pressentindo que havia muita angústia naquele miado longo e triste, apressou-se a seguir em direção ao som. Depois de algum tempo procurando, divisou alguns arbustos que se fechavam em volta do lugar de onde saia miado e, tentando afastar os galhos e as folhas que se fechavam, usou a varinha mágica para afastá-los e poder ver o que havia ali. Foi nesse instante que, sem querer, acabou fazendo com que sua varinha mágica tocasse em algo. Imediatamente, a fada viu o que era. Uma oncinha, muito pequena, estava perdida ali. Prendeu-se nos galhos e estava a chorar de fome e sede. Contudo, agora, depois de ser tocada pela varinha mágica da fada, tornou-se imediatamente toda dourada.
A fada logo entendeu o que se passara. Compreendeu que era um bichinho perdido, abandonado talvez e que agora, uma vez tornado dourado, não poderia mais viver ali no meio da floresta. Decidida, então, tomou da oncinha e, cuidadosamente, colocou-a dentro do cestinho de vime, e começou a sair da floresta.
Ora, os bichos, que não perderam nada do que acontecera, estavam todos perplexos. Em seguida, começou a correr pela floresta a novidade da adoção da oncinha perdida pela fada e, todos ficaram atentos à passagem dela pelo caminho de volta, segurando a cesta com firmeza, seguindo a passos firmes em direção castelo. A fada, assim, ia mostrando a todos os bichos a oncinha dourada, que sem querer, acabara se tornando um bicho encantado. Ia agora viver no castelo, em companhia da fada e do anãozinho mágico, porque, depois de ser tocada pela magia, a oncinha estava encantada para sempre, e teria de passar a viver uma vida diferente, reservada às coisas que a magia toca.
E foi assim que surgiu a oncinha dourada e assim termina essa história, com o bichinho perdido que foi encontrado pela fada.
NOTA:
Meu vô Bleggi (na foto, quando jovem) inventou esta história para mim, a neta querida para quem ele dava macãs raspadas. Como eu já conhecia muitas histórias dos livros e do Walt Disney, pedi a ele que inventasse uma que fosse feita só para mim. Daí ele inventou esta, sem esquecer das maçãs, é claro, que iam no cesto da fada e que eram as mesmas que eu comia: maçãs provindas do castelo da fada onde vivia a oncinha dourada.
Claro que isso é do tempo em que a imaginação tornava essas coisas todas perfeitamente críveis, e que nada era capaz de demover essa crença infantil no impossível, na verdade, uma maneira de ver o mundo, única capaz de inspirar a criação de lindas histórias. Como esta, criada para mim pelo meu avô.