26 de agosto de 2009

Suicídio

Sobre esse tema, encontra-se um apanhado da época num interessante livro escrito pelo Dr. Élie Metchnikoff, que foi subdiretor do Instituto Pasteur. A obra chama-se Essais Optimistes, 2ª edição, A. Maloine, Paris, 1914. A propósito das causas do suicídio, relata: “Se, de um lado, os filósofos e os poetas pessimistas refletem as opiniões e os sentimentos de seus contemporâneos, é incontestável que, de outro, eles influenciam muito seus leitores. Assim foi enraizada uma concepção pessimista da vida, de acordo com a qual a existência humana não é senão uma série de infelicidades não compensadas pelo bem. É muito provável que tais idéias tenham tido sua parte na extensão dos suicídios nos tempos modernos. Se bem que se conheçam ainda muito pouco os motivos íntimos da maior parte dos suicídios, não se pode negar, todavia, que a concepção geral da vida aí deva desempenhar um importante papel. De acordo com a estatística, o maior número dos suicídios é posto na conta da ‘hipocondria, da melancolia, do tédio de viver, da alienação mental’. Assim, segundo os dados da estatística dinamarquesa (sabe-se que a Dinamarca é um país onde o suicídio é muito freqüente), sobre 1.000 casos de morte voluntária de homens, sobrevindos no período de 1886 a 1895, 224, quer dizer, um quarto são atribuíveis ao conjunto de causas que acabamos de mencionar. A cifra correspondente para as mulheres é ainda mais elevada, porque compreende quase a metade dos suicídios (403 para 1.000). O segundo lugar entre os homens é ocupado pelo alcoolismo que ocasionou 164 suicídios em 1.000 (dados tomados a Westergaard). Ora, é muito provável que, nas duas categorias de causas, os suicídios fossem produzidos por um fundo pessimista. Deduzidos os verdadeiros alienados entre os melancólicos, os hipocondríacos, os entediados da vida, deve restar um número considerável de pessoas nas quais o estado mental não era patológico no estrito sentido da palavra, mas que se deram à morte porque tinham uma concepção pessimista da vida. Entre as pessoas que se envenenaram, houve muitas que o fizeram porque estavam persuadidas de que a vida é má demais para ser conservada. O aumento progressivo dos suicídios nos tempos modernos, constatado pela estatística, indica, por sua vez, a importância das teorias pessimistas. Chegou-se a ir até mesmo à sociedade dos amigos do suicídio. Relata-se que, numa semelhante sociedade, fundada no início do último século em Paris, reunia-se um certo número de pessoas que punham seus nomes numa urna para tirarem a sorte. Aquele cujo nome fosse sorteado devia suicidar-se na presença dos demais sócios. De acordo com os estatutos, a sociedade não aceitava em seu seio senão pessoas honoráveis que deveriam ter passado pela experiência ‘da injustiça dos homens, da ingratidão de um amigo, da infidelidade da esposa ou da amante, acima de tudo, deveriam, desde há anos, ter experimentado um sentimento de vazio na alma e um desprazer de tudo aquilo que pode apresentar este mundo’(Dieudonne, Archiv. für Kulturgeschichte, 1903, tomo I, p. 357). Uma concepção pessimista da vida constituía, pois, a base dessa determinação fatal.”