18 de agosto de 2009

O Mestre La Bruyére

Viver com seus inimigos como se eles fossem se tornar um dia nossos amigos, e viver com nossos amigos como se eles pudessem tornar-se nossos inimigos, não é segundo a natureza do ódio, nem segundo as regras da amizade: não é uma máxima moral, mas política.
O autor dessa passagem, Jean de La Bruyère, nasceu em Paris, em 16 de agosto de 1645 e foi um dos maiores nomes do classicismo francês. Recebeu sólida educação humanística e estudou Direito em Orléans. Em 1684, graças à intervenção do teólogo e humanista Jacques-Bénigne Bossuet, foi designado preceptor do duque Luís de Bourbon e permaneceu a serviço deste como bibliotecário do castelo de Chantilly. O contato direto com o mundo da corte forneceu-lhe material para a redação da obra que o tornou célebre: Les Caractères de Théophraste Traduits du Grec avec les Caractères ou les Moeurs de ce Siècle, 1688, Embora de início concebida como uma tradução do autor grego Teofrasto, a obra notabilizou-se por um apêndice, redigido por La Bruyère, que constituía não apenas valioso quadro dos costumes sociais, mas também uma profunda análise do comportamento humano. O método empregado por La Bruyère consistiu em definir diversas qualidades e depois personificá-las por meio de um estilo preciso e satírico, adequado para sua crítica do relaxamento moral da época. Exemplifiquemos: Certos homens, contentes consigo mesmos de qualquer ação ou obra em que não foram mal sucedidos, e tendo ouvido dizer que a modéstia fica bem aos grandes, ousam ser modestos, imitando os simples e os sinceros: assemelham-se às pessoas de estatura meã, que se baixam ao passar uma porta, receando bater a cabeça. Ou ainda: Não há gesto, por mais simples, natural e espontâneo, que não revele a nossa personalidade. Um imbecil não entra nem sai; não senta nem se põe de pé; não fala nem se cala do mesmo modo que um homem inteligente.
Por aí pode-se bem compreender a razão pela qual o Dr. Richet, muito falado aui neste blog, chamou mestre a La Bruyére, para quem a profunda ignorância inspira o tom dogmático... La Bruyère morreu em Versalhes, em 10 ou 11 de maio de 1696.
Fonte: Encyclopaedia Britannica do Brasil; Décio Valente, Seleta Filosófica, Apólogos, Pensamentos e Reflexões, Ed. “O Livreiro”, São Paulo, 3ª edição, 1958; Les Caractères – Extraits, Librairie Laousse, Paris, s/data.