“Está, pois, demostrado que um certo número de criminosos são tais desde a primeira infância, qualquer que seja a parte devida às causas hereditárias. Digamos melhor: se alguns são produto de uma má educação, em outros, a boa não influi em nada. Todavia, sua ação benfazeja é, precisamente, iluminar este fato, qual seja, o de que as tendências criminais são gerais entre as crianças, de sorte que, sem a educação, não saberíamos explicar o fenômeno que se produz no maior número de casos, e que nós chamaremos sua metamorfose normal. De resto, por educação, não entendemos as simples instruções teóricas, raramente úteis aos próprios adultos, aos quais vemos tão pouco influenciados pela literatura, a eloqüência, as artes ditas moralizadoras. Por educação entendemos, menos ainda, as violências pedagógicas que, freqüentemente, engendram os hipócritas e, longe de mudar o vício em virtude, transformam-na em outro vício. A educação é, para nós, uma série de impulsos reflexos, que lentamente substituem outros que engendram diretamente as tendências depravadas, ou, ao menos, favorecem seu desenvolvimento. Devemos, para isso, socorrer-nos da imitação, dos hábitos gradualmente introduzidos pelo convívio com pessoas honestas e por precauções sabiamente tomadas para impedir a idéia fixa que vimos tornar-se tão fatal na infância, jorrando em terreno muito fértil. Agora, ainda, a pena, por ela mesma, não se mostra tão eficaz quanto certos meios preventivos, tais como as condições favoráveis de arejamento, iluminação e de espaço, uma nutrição onde faremos predominar, por exemplo, as substâncias vegetais, com privação de bebidas alcoólicas, em completa abstinência e, em certos casos, uma ginástica sexual preventiva de excessos solitários. Os meios preventivos importam em evitar os ciúmes fáceis para impedir as violências impulsivas; reprimir o orgulho precoce por meio de provas palpáveis, – tão fáceis de encontrar e de produzir, – da inferioridade humana, sobretudo na infância. Importam, ainda, em cultivar a inteligência pela via dos sentidos, e o coração pela via da inteligência, como o faz, de modo tão admirável, o sistema de Froebel. Há crianças tristes, violentas, levadas à masturbação em razão de doenças, de raquitismo, ou por causa de vermes, etc. Os depurativos, os vermífugos tornam-se, então, os únicos meios de correção.”
Fonte: LOMBROSO, César. O Homem Delinqüente, Ricardo Lenz Editor, Porto Alegre, 2001.