Estudamos esta questão no trabalho feito em 1881, no laboratório de Medicina Legal da Faculdade de Lyon e no artigo Tatouage do Dicionário de Dechambre (Lyon, 1900). Existe a tatuagem quando materiais corantes, vegetais ou minerais, são introduzidos sob a epiderme a profundidades variáveis, com a finalidade de produzir uma coloração ou desenhos aparentes de longa duração, apesar de não absolutamente indeléveis. Mostramos, em nossa publicação, a influência da idade, do sexo, da profissão e o fato de ver-se a importância médico-legal das tatuagens de acordo com seu local e suas características exteriores. Nesse último ponto de vista, deve-se distinguir a data da tatuagem e o desenho propriamente dito. Em nosso país, os tatuadores fazem uso de nanquim e de vermelhão; o carvão de madeira moído e diluído em água, a tinta azul são às vezes empregados; mais raramente, faz-se uso do azul da prússia ou do azul de lavanderia. Para marcar o desenho, o tatuador emprega agulhas freqüentemente muito finas: estas agulhas, em número de 3, de 5 ou de 10 são mantidas num mesmo nível com a ajuda de fios e fixadas na extremidade de um pedaço de madeira. Os bons tatuadores fazem uma primeira picada, inserindo obliquamente as agulhas a uma profundidade de meio milímetro e muito raramente determinam uma perda de sangue. Freqüentemente, não fazem mais que uma única inserção; talvez o desenho seja repicado uma segunda vez, a fim de exibir contornos aparentes. A operação termina, a superfície da tatuagem é lavada com água, saliva ou urina.
Observamos mais de 2.500 tatuagens. Eis nosso método. A tela transparente é aplicada sobre a parte a ser tatuada. O desenho aparece muito nítido e é fácil seguir seus contornos com um lápis ordinário. Tem-se assim a reprodução matemática da imagem que se torna muito visível quando a tela é posta sobre uma folha de papel branco. Passa-se então aos traços a tinta azul ou vermelha, segundo uma ou outra coloração. Feito isso, a tela é afixada sobre um cartão, cuja dimensão varia segundo o tamanho da tatuagem.
Dividimos as tatuagens, segundo a imagem que representam, em 7 categorias distintas: emblemas patrióticos e religiosos; profissionais; inscrições; militares; metáforas; amores e erotismo; fantasistas e históricas. As tatuagens podem se apagar ou desaparecer, de acordo com a matéria corante empregada: é certo que o nanquim é a substância mais indelével, enquanto que o vermelhão é a menos tenaz. Procura-se fazer desaparecer as tatuagens para desembaraçar-se de um sinal de identidade comprometedor. Tem-se feito uso de substâncias vesicantes, que fazem aparecer bolhas sobre a pele, combinadas com a aplicação matérias quentes ou tópicos de natureza cáustica. Tardieu pretendeu que, com a ajuda de certos meios químicos, se poderia fazer desaparecer as tatuagens. Pensamos que, na maior parte dos casos, qualquer que seja o procedimento empregado, provoca-se assim uma cicatriz aparente que dissimula a tatuagem, mas que, do ponto de vista médico-legal, é também um sinal indiscutível da própria tatuagem. Insistimos sobre as tatuagens substituídas ou sobrepostas que chamamos transformadas ou sobrecarregadas para indicar sob quais condições haviam sido feitas. Sobre o cadáver, mesmo que a putrefação ou uma causa acidental haja removido a pele, dever-se-ia examinar com cuidado o estado dos vasos linfáticos e dos gânglios da região, para procurar a matéria corante. Como se vê, as tatuagens têm um grande valor médico-legal. São cicatrizes ideográficas coloridas pela introdução de substências corantes nas malhas do tecido sub-epidérmico.
Conseqüências médido-judiciárias e regras periciais. Na apreciação desses ferimentos, deve-se ter em conta: a extensão do dano, a qualidade do ferimento, a intenção de ferir.
A tatuagem é uma manifestação estética do meio social
Fonte: LACASSAGNE, A.. Précis de Médecine Légale, Masson, Paris, 1909.