Dez anos já ―
e nenhuma gota te alcançou?
Nem úmido vento? nem orvalho de amor?
Mas também quem haveria de te de amar,
ó mais que rico?
Tua felicidade torna seco teu redor,
torna pobre de amor
― uma terra sem chuva...
Já ninguém te agradece.
Tu, porém, agradeces a todo aquele
que toma de ti;
por aí eu te reconheço,
ó mais que rico, tu,
o mais pobre de todos os ricos!
Tu te sacrificas, tua riqueza te atormenta ―
Tu dás,
não te poupas, não te amas:
o grande tormento constrange-te o tempo todo,
o tormento dos celeiros transbordantes, do coração transbordante ―
mas já ninguém te agradece...
Tens de tornar-te mais pobre,
ó sábio insensato!
queres ser amado,
Só se ama aos que sofrem,
só se dá amor ao que tem fome:
presenteia antes a ti próprio, ó Zaratustra!
― Eu sou a tua verdade...
Nietzsche