31 de agosto de 2009

Reclames de Antigamente

Ah! Um clic com o mouse a imagem bem grande e legível. O texto é bonito e dá pra sentir o talendo dos que redigiam esses reclames de antigamente.

Da Pobreza do Riquíssimo

Dez anos já ―
e nenhuma gota te alcançou?
Nem úmido vento? nem orvalho de amor?
Mas também quem haveria de te de amar,
ó mais que rico?
Tua felicidade torna seco teu redor,
torna pobre de amor
― uma terra sem chuva...

Já ninguém te agradece.
Tu, porém, agradeces a todo aquele
que toma de ti;
por aí eu te reconheço,
ó mais que rico, tu,
o mais pobre de todos os ricos!

Tu te sacrificas, tua riqueza te atormenta ―
Tu dás,
não te poupas, não te amas:
o grande tormento constrange-te o tempo todo,
o tormento dos celeiros transbordantes, do coração transbordante ―
mas já ninguém te agradece...

Tens de tornar-te mais pobre,
ó sábio insensato!
queres ser amado,
Só se ama aos que sofrem,
só se dá amor ao que tem fome:
presenteia antes a ti próprio, ó Zaratustra!
― Eu sou a tua verdade...

Nietzsche

Solidão


Na solidão, o solitário se devora a si mesmo; na multidão, devoram-no inúmeros. Então, escolhe.

Nietzsche

28 de agosto de 2009

Política

A política não é uma ciência matemática; em política nem sempre é verdade que dois mais dois fazem quatro, nem que a linha reta seja a mais curta.
Eugéne Poitou
Fonte: Migalhas 2.215

27 de agosto de 2009

Sighele, sobre a imitação

E é uma verdade incontestável e incontestada que a tendência que um homem tem para imitar é uma das tendências mais fortes de sua natureza. É bastante lançar um olhar em torno de nós para ver que o mundo social não é senão um tecido de similitudes; similitudes que são produzidas pela imitação sob todas as suas formas, imitação-moda ou imitação-costume, imitação-simpatia ou imitação-obediência, imitação-instrução ou imitação-educação, imitação espontânea ou imitação reflexa. “Nada é tão contagioso quanto o exemplo, — diz La Rochefoucauld, — e nós não fazemos jamais grandes bens ou grandes males senão que produzindo semelhantes”.
"Os homens, — dizia Tarde, — são um rebanho de ovelhas entre as quais se vê nascer às vezes uma ovelha louca, — o gênio, — que, pela única força do exemplo, constrange as outras a segui-la. Com efeito, tudo aquilo que existe e que é obra do homem, — desde os objetos materiais até as idéias, — tudo não é senão a imitação ou a repetição mais ou menos modificada de uma idéia outrora inventada por uma individualidade superior. Assim como todas as palavras de nosso vocabulário, palavras hoje bastante conhecidas, foram outrora neologismos, da mesma maneira, tudo aquilo de ordinário que hoje existe foi outrora único e original".

Fonte: SIGHELE, Scipio. La Foule Criminelle. Essai de psychologie collective. 2ª ed. Paris, Alcan, 1901, p. 34-35. Tradução minha.

De Émile Durkheim, confronto com G. Tarde

"A sociologia deve continuar a ser uma especulação filosófica que abraça a vida social em uma fórmula sintética? Deve ela, ao contrário, fragmentar-se em diferentes ciências e, se ela deve especializar-se, como esta especialização se faria? A sociologia puramente filosófica repousa inteiramente sobre esta idéia de que os fenômenos sociais estão submetidos a leis necessárias. Os fatos sociais têm entre si ligações que a vontade humana não pode arbitrariamente romper. Essa verdade supunha uma mentalidade avançada e não podia ser senão o fruto de especulações filosóficas. A sociologia é a filha do pensamento filosófico, ela nasceu no seio da filosofia comtista e não é dela senão o coroamento lógico. Mas, para Comte, a sociologia não consiste na pluralidade de problemas definidos que os sábios estudam separadamente; ela atém-se a um problema único e deve abraçar, num instante indivisível, a seqüência do desenvolvimento histórico para perceber a lei que o domina em seu conjunto. Os estudos de detalhe são perigosos, dizia Comte, porque eles desviam a atenção do sociólogo do problema fundamental que é o todo da sociologia. Os fatos sociais são solidários, e não se pode estudá-los isoladamente, senão que em alterando gravemente sua natureza. Os discípulos de Comte não fazem senão reproduzir o pensamento do mestre, e as mesmas fórmulas têm sido repetidas sem que a sociologia tenha progredido. Mas por que a sociologia consistiria em um único problema? A realidade social é essencialmente complexa, não ininteligível, mas apenas refratária às formas simples. A sociologia não é uma ciência unitária e, ainda que respeitando a solidariedade e a interdependência dos fatos sociais, ela deve estudar cada categoria separadamente. Todavia, a concepção que conduz a sociologia a um só e único problema é ainda a mais geral, mesmo entre os autores contemporâneos. Trata-se sempre de descobrir a lei geral da sociedade. Todos os fatos estudados pelas ciências sociais distintas teriam um caráter comum, pois que sociais, e a sociologia teria por objeto estudar o fato social em sua abstração. Em comparando os fatos sociais, ver-se-ão quais são os elementos que se encontram em todas as espécies e destacar-se-ão os caracteres gerais da sociabilidade. Mas onde e como alcançar essa abstração? Os fatos dados são concretos, complexos; mesmo as civilizações mais inferiores são de uma extrema complexidade. Como destacar o fato elementar com seus caracteres abstratos, se não se começa por estudar os fenômenos concretos onde ele se realiza? Se, pois, a sociologia quiser viver, ela deverá renunciar ao caráter filosófico ao qual ela deve sua origem e aproximar-se das realidades concretas por meio de pesquisas especiais. Há interesse em que o público saiba que a sociologia não é puramente filosófica, e que ela pede precisão e objetividade. Mas isso não quer dizer que as disciplinas especiais não devam, — para se tornarem ciências verdadeiramente sociológicas, — senão permanecerem aquilo que elas são atualmente. Elas não têm sido ainda suficientemente penetradas pelas idéias que a filosofia social destacou. Elas têm necessidade de se transformar, de orientarem-se em um sentido expressamente sociológico. No momento atual, não se pode senão formular o problema".

Fonte: Citação extraída da edição eletrônica realizada a partir de um texto de Émile Durkheim (1903), La sociologie et les sciences sociales. Confrontation avec Tarde. Texto disponível na coleção produzida por Jean-Marie Tremblay, Professor de Sociologia em Chicoutini, Les classiques des sciences sociales. Tradução minha.

Sobre Gall

Maristela,

Não sei o que você tem e/ou sabe sobre Gall, motivo de escrever esta breve contribuição.
O neuro-anatomista Franz Joseph Gall (1758-1828), publica na Paris de 1825 uma volumosa obra intitulada Sobre as funções do cérebro e cada uma de suas partes, com observações sobre a possibilidade de determinar os instintos e talentos, e as disposições morais e intelectuais do homem e dos animais pela configuração do cérebro e da cabeça. Esse estudo de personologia anatômica foi por ele denominada de frenologia. Pequenos trechos dessa obra estão publicados em Textos Básicos de História da Psicologia, de Herrnestein e Boring, traduzidos para o brasileiro por Dante Moreira Leite e publicado pela Herder/Editora da Universidade de São Paulo em 1971. Neles, Gall trata de assuntos interessantes como "O sentimento de provisão; cobiça; tendência para o roubo", onde fala da "história natural da tendência para roubar", "sentimento inato de propriedade", "a propriedade como uma instituição da natureza nos animais", "a propriedade é uma instituição da natureza no homem" e "a qualidade fundamental a que se liga a tendência para roubar é o sentimento de propriedade, ou a tendência para fazer provisões".
Veja que trecho legal:
"Os moços de recados, e outros dessa classe de pessoas, que eu costumava reunir em grandes números em minha casa, freqüentemente se acusavam de pequenos furtos, ou, como o diziam, chiperies, e tinham grande prazer em indicar os que se salientavam nessas práticas; enquanto os próprios chipeurs se apresentavam, orgulhosos de sua habilidade superior. O que mais me chamava a atenção era que algumas dessas pessoas mostravam a maior repugnância por roubo, e preferiam passar fome a aceitar qualquer parte do pão e das frutas que seus companheiros tivessem roubado; os chipeurs ridicularizavam essa conduta e pensavam que era tola.
Quando eu podia reunir um número considerável, freqüentemente dividia as pessoas em três classes. A primeira incluia os chipeurs; a segunda os que não gostavam de roubo; e a terceira, os que o viam com indiferença. Ao examinar suas cabeças, espantava-me ao verificar que os chipeurs mais intervalos tinham em uma proeminência, que ia desde o órgão da esperteza até quase o ângulo externo da saliência do supercílio; e que essa região era achatada naqueles que mostravam horror ao roubo; enquanto que, nos indiferentes ao roubo, a parte era às vezes menos desenvolvida, mas nunca tão desenvolvida quanto nos ladrões confessos" (Gall, 1825 - in Herrnstein & Boring, 1971, p.259). Herrnstein & Boring (1971) Franz Josheph Gall (1758-1828) Frenologia, a localização das funções do cérebro, 1825. (trad. de Leite, D.M.) São Paulo, Herder/Editora da Universidade de São Paulo.
Em 25/11/2007 às 22H13min

A Travessia

Não tenho medo que nossa travessia torne-se cansativa e monótona. Sabemos inventar e reinventar a nós mesmos todos os dias. A bordo a presença não será inútil, desnecessária ou mesmo incômoda. Preferiríamos naufragar a reconhecer qualquer uma dessas possibilidades viajando como clandestina em nossa vida comum.

26 de agosto de 2009

Lombroso, sobre crianças

“Está, pois, demostrado que um certo número de criminosos são tais desde a primeira infância, qualquer que seja a parte devida às causas hereditárias. Digamos melhor: se alguns são produto de uma má educação, em outros, a boa não influi em nada. Todavia, sua ação benfazeja é, precisamente, iluminar este fato, qual seja, o de que as tendências criminais são gerais entre as crianças, de sorte que, sem a educação, não saberíamos explicar o fenômeno que se produz no maior número de casos, e que nós chamaremos sua metamorfose normal. De resto, por educação, não entendemos as simples instruções teóricas, raramente úteis aos próprios adultos, aos quais vemos tão pouco influenciados pela literatura, a eloqüência, as artes ditas moralizadoras. Por educação entendemos, menos ainda, as violências pedagógicas que, freqüentemente, engendram os hipócritas e, longe de mudar o vício em virtude, transformam-na em outro vício. A educação é, para nós, uma série de impulsos reflexos, que lentamente substituem outros que engendram diretamente as tendências depravadas, ou, ao menos, favorecem seu desenvolvimento. Devemos, para isso, socorrer-nos da imitação, dos hábitos gradualmente introduzidos pelo convívio com pessoas honestas e por precauções sabiamente tomadas para impedir a idéia fixa que vimos tornar-se tão fatal na infância, jorrando em terreno muito fértil. Agora, ainda, a pena, por ela mesma, não se mostra tão eficaz quanto certos meios preventivos, tais como as condições favoráveis de arejamento, iluminação e de espaço, uma nutrição onde faremos predominar, por exemplo, as substâncias vegetais, com privação de bebidas alcoólicas, em completa abstinência e, em certos casos, uma ginástica sexual preventiva de excessos solitários. Os meios preventivos importam em evitar os ciúmes fáceis para impedir as violências impulsivas; reprimir o orgulho precoce por meio de provas palpáveis, – tão fáceis de encontrar e de produzir, – da inferioridade humana, sobretudo na infância. Importam, ainda, em cultivar a inteligência pela via dos sentidos, e o coração pela via da inteligência, como o faz, de modo tão admirável, o sistema de Froebel. Há crianças tristes, violentas, levadas à masturbação em razão de doenças, de raquitismo, ou por causa de vermes, etc. Os depurativos, os vermífugos tornam-se, então, os únicos meios de correção.”
Fonte: LOMBROSO, César. O Homem Delinqüente, Ricardo Lenz Editor, Porto Alegre, 2001.

As Tatuagens

Estudamos esta questão no trabalho feito em 1881, no laboratório de Medicina Legal da Faculdade de Lyon e no artigo Tatouage do Dicionário de Dechambre (Lyon, 1900). Existe a tatuagem quando materiais corantes, vegetais ou minerais, são introduzidos sob a epiderme a profundidades variáveis, com a finalidade de produzir uma coloração ou desenhos aparentes de longa duração, apesar de não absolutamente indeléveis. Mostramos, em nossa publicação, a influência da idade, do sexo, da profissão e o fato de ver-se a importância médico-legal das tatuagens de acordo com seu local e suas características exteriores. Nesse último ponto de vista, deve-se distinguir a data da tatuagem e o desenho propriamente dito. Em nosso país, os tatuadores fazem uso de nanquim e de vermelhão; o carvão de madeira moído e diluído em água, a tinta azul são às vezes empregados; mais raramente, faz-se uso do azul da prússia ou do azul de lavanderia. Para marcar o desenho, o tatuador emprega agulhas freqüentemente muito finas: estas agulhas, em número de 3, de 5 ou de 10 são mantidas num mesmo nível com a ajuda de fios e fixadas na extremidade de um pedaço de madeira. Os bons tatuadores fazem uma primeira picada, inserindo obliquamente as agulhas a uma profundidade de meio milímetro e muito raramente determinam uma perda de sangue. Freqüentemente, não fazem mais que uma única inserção; talvez o desenho seja repicado uma segunda vez, a fim de exibir contornos aparentes. A operação termina, a superfície da tatuagem é lavada com água, saliva ou urina.
Observamos mais de 2.500 tatuagens. Eis nosso método. A tela transparente é aplicada sobre a parte a ser tatuada. O desenho aparece muito nítido e é fácil seguir seus contornos com um lápis ordinário. Tem-se assim a reprodução matemática da imagem que se torna muito visível quando a tela é posta sobre uma folha de papel branco. Passa-se então aos traços a tinta azul ou vermelha, segundo uma ou outra coloração. Feito isso, a tela é afixada sobre um cartão, cuja dimensão varia segundo o tamanho da tatuagem.
Dividimos as tatuagens, segundo a imagem que representam, em 7 categorias distintas: emblemas patrióticos e religiosos; profissionais; inscrições; militares; metáforas; amores e erotismo; fantasistas e históricas. As tatuagens podem se apagar ou desaparecer, de acordo com a matéria corante empregada: é certo que o nanquim é a substância mais indelével, enquanto que o vermelhão é a menos tenaz. Procura-se fazer desaparecer as tatuagens para desembaraçar-se de um sinal de identidade comprometedor. Tem-se feito uso de substâncias vesicantes, que fazem aparecer bolhas sobre a pele, combinadas com a aplicação matérias quentes ou tópicos de natureza cáustica. Tardieu pretendeu que, com a ajuda de certos meios químicos, se poderia fazer desaparecer as tatuagens. Pensamos que, na maior parte dos casos, qualquer que seja o procedimento empregado, provoca-se assim uma cicatriz aparente que dissimula a tatuagem, mas que, do ponto de vista médico-legal, é também um sinal indiscutível da própria tatuagem. Insistimos sobre as tatuagens substituídas ou sobrepostas que chamamos transformadas ou sobrecarregadas para indicar sob quais condições haviam sido feitas. Sobre o cadáver, mesmo que a putrefação ou uma causa acidental haja removido a pele, dever-se-ia examinar com cuidado o estado dos vasos linfáticos e dos gânglios da região, para procurar a matéria corante. Como se vê, as tatuagens têm um grande valor médico-legal. São cicatrizes ideográficas coloridas pela introdução de substências corantes nas malhas do tecido sub-epidérmico.
Conseqüências médido-judiciárias e regras periciais. Na apreciação desses ferimentos, deve-se ter em conta: a extensão do dano, a qualidade do ferimento, a intenção de ferir.
A tatuagem é uma manifestação estética do meio social

Fonte: LACASSAGNE, A.. Précis de Médecine Légale, Masson, Paris, 1909.

Sólon

Sólon, fundador da democracia e um dos grandes sábios da Grécia, nasceu em Atenas no ano 640 a.C. Entre algumas medidas de resguardo à liberdade, Sólon proibiu a escravidão por dívida, aboliu a hipoteca sobre pessoas e bens e libertou os pequenos proprietários que se encontravam escravizados, implantou reformas políticas e regulamentou o exercício do poder nas diversas categorias sociais. Seu programa político era veiculado sob a forma de poemas, restando hoje apenas fragmentos e citações. Sólon morreu por volta de 560 a.C.

Suicídio

Sobre esse tema, encontra-se um apanhado da época num interessante livro escrito pelo Dr. Élie Metchnikoff, que foi subdiretor do Instituto Pasteur. A obra chama-se Essais Optimistes, 2ª edição, A. Maloine, Paris, 1914. A propósito das causas do suicídio, relata: “Se, de um lado, os filósofos e os poetas pessimistas refletem as opiniões e os sentimentos de seus contemporâneos, é incontestável que, de outro, eles influenciam muito seus leitores. Assim foi enraizada uma concepção pessimista da vida, de acordo com a qual a existência humana não é senão uma série de infelicidades não compensadas pelo bem. É muito provável que tais idéias tenham tido sua parte na extensão dos suicídios nos tempos modernos. Se bem que se conheçam ainda muito pouco os motivos íntimos da maior parte dos suicídios, não se pode negar, todavia, que a concepção geral da vida aí deva desempenhar um importante papel. De acordo com a estatística, o maior número dos suicídios é posto na conta da ‘hipocondria, da melancolia, do tédio de viver, da alienação mental’. Assim, segundo os dados da estatística dinamarquesa (sabe-se que a Dinamarca é um país onde o suicídio é muito freqüente), sobre 1.000 casos de morte voluntária de homens, sobrevindos no período de 1886 a 1895, 224, quer dizer, um quarto são atribuíveis ao conjunto de causas que acabamos de mencionar. A cifra correspondente para as mulheres é ainda mais elevada, porque compreende quase a metade dos suicídios (403 para 1.000). O segundo lugar entre os homens é ocupado pelo alcoolismo que ocasionou 164 suicídios em 1.000 (dados tomados a Westergaard). Ora, é muito provável que, nas duas categorias de causas, os suicídios fossem produzidos por um fundo pessimista. Deduzidos os verdadeiros alienados entre os melancólicos, os hipocondríacos, os entediados da vida, deve restar um número considerável de pessoas nas quais o estado mental não era patológico no estrito sentido da palavra, mas que se deram à morte porque tinham uma concepção pessimista da vida. Entre as pessoas que se envenenaram, houve muitas que o fizeram porque estavam persuadidas de que a vida é má demais para ser conservada. O aumento progressivo dos suicídios nos tempos modernos, constatado pela estatística, indica, por sua vez, a importância das teorias pessimistas. Chegou-se a ir até mesmo à sociedade dos amigos do suicídio. Relata-se que, numa semelhante sociedade, fundada no início do último século em Paris, reunia-se um certo número de pessoas que punham seus nomes numa urna para tirarem a sorte. Aquele cujo nome fosse sorteado devia suicidar-se na presença dos demais sócios. De acordo com os estatutos, a sociedade não aceitava em seu seio senão pessoas honoráveis que deveriam ter passado pela experiência ‘da injustiça dos homens, da ingratidão de um amigo, da infidelidade da esposa ou da amante, acima de tudo, deveriam, desde há anos, ter experimentado um sentimento de vazio na alma e um desprazer de tudo aquilo que pode apresentar este mundo’(Dieudonne, Archiv. für Kulturgeschichte, 1903, tomo I, p. 357). Uma concepção pessimista da vida constituía, pois, a base dessa determinação fatal.”

20 de agosto de 2009

Duas Palavras

Há duas palavras que abrem muitas portas: puxe e empurre.

18 de agosto de 2009

O Mestre La Bruyére

Viver com seus inimigos como se eles fossem se tornar um dia nossos amigos, e viver com nossos amigos como se eles pudessem tornar-se nossos inimigos, não é segundo a natureza do ódio, nem segundo as regras da amizade: não é uma máxima moral, mas política.
O autor dessa passagem, Jean de La Bruyère, nasceu em Paris, em 16 de agosto de 1645 e foi um dos maiores nomes do classicismo francês. Recebeu sólida educação humanística e estudou Direito em Orléans. Em 1684, graças à intervenção do teólogo e humanista Jacques-Bénigne Bossuet, foi designado preceptor do duque Luís de Bourbon e permaneceu a serviço deste como bibliotecário do castelo de Chantilly. O contato direto com o mundo da corte forneceu-lhe material para a redação da obra que o tornou célebre: Les Caractères de Théophraste Traduits du Grec avec les Caractères ou les Moeurs de ce Siècle, 1688, Embora de início concebida como uma tradução do autor grego Teofrasto, a obra notabilizou-se por um apêndice, redigido por La Bruyère, que constituía não apenas valioso quadro dos costumes sociais, mas também uma profunda análise do comportamento humano. O método empregado por La Bruyère consistiu em definir diversas qualidades e depois personificá-las por meio de um estilo preciso e satírico, adequado para sua crítica do relaxamento moral da época. Exemplifiquemos: Certos homens, contentes consigo mesmos de qualquer ação ou obra em que não foram mal sucedidos, e tendo ouvido dizer que a modéstia fica bem aos grandes, ousam ser modestos, imitando os simples e os sinceros: assemelham-se às pessoas de estatura meã, que se baixam ao passar uma porta, receando bater a cabeça. Ou ainda: Não há gesto, por mais simples, natural e espontâneo, que não revele a nossa personalidade. Um imbecil não entra nem sai; não senta nem se põe de pé; não fala nem se cala do mesmo modo que um homem inteligente.
Por aí pode-se bem compreender a razão pela qual o Dr. Richet, muito falado aui neste blog, chamou mestre a La Bruyére, para quem a profunda ignorância inspira o tom dogmático... La Bruyère morreu em Versalhes, em 10 ou 11 de maio de 1696.
Fonte: Encyclopaedia Britannica do Brasil; Décio Valente, Seleta Filosófica, Apólogos, Pensamentos e Reflexões, Ed. “O Livreiro”, São Paulo, 3ª edição, 1958; Les Caractères – Extraits, Librairie Laousse, Paris, s/data.

17 de agosto de 2009

A Paixão Segundo GH

Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação. Como é que se explica que o meu maior medo seja exatamente em relação: a ser? e no entanto não há outro caminho. Como se explica que o meu maior medo seja exatamente o de ir vivendo o que for sendo? como é que se explica que eu não tolere ver, só porque a vida não é o que eu pensava e sim outra como se antes eu tivesse sabido o que era! Por que é que ver é uma tal desorganização? E uma desilusão. Mas desilusão de quê? se, sem ao menos sentir, eu mal devia estar tolerando minha organização apenas construída? Talvez desilusão seja o medo de não pertencer mais a um sistema. No entanto se deveria dizer assim: ele está muito feliz porque finalmente foi desiludido. O que eu era antes não me era bom. Mas era desse não-bom que eu havia organizado o melhor: a esperança. De meu próprio mal eu havia criado um bem futuro. O medo agora é que meu novo modo não faça sentido? Mas por que não me deixo guiar pelo que for acontecendo? Terei que correr o sagrado risco do acaso. E substituirei o destino pela probabilidade.
Clarice Lispector

16 de agosto de 2009

Saudade

Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.
Clarice Lispector

Quarto Motivo da Rosa



Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.

Rosas verá, só de cinzas franzida,
mortas, intactas pelo teu jardim.

Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.

E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.

Cecília Meireles

7 de agosto de 2009

Grátis


Cigarro. Paixão Proibida


A caça aos fumantes tomou proporções inauditas. Estou estarrecida. Agora é lei. São Paulo proíbe o uso de cigarros e derivados de tabaco em áreas fechadas de uso coletivo, como bares, restaurantes, casas noturnas, escolas, ambiente de trabalho, museus, shoppings, lojas, repartições públicas e táxis. Os “fumódromos” foram abolidos em estabelecimentos comerciais e em ambientes de trabalho. Restam a própria casa, as vias públicas e o ar livre. Áreas comuns de condomínio também não foram liberadas, mas os cultos religiosos foram preservados, de sorte que o indivíduo que receba um “santo” ou uma “entidade” reconhecidamente tabagista poderá acender o seu cigarrinho durante o culto, desde que isso faça parte do ritual. Bem, a perda de glamour do cigarro é indiscutível. Fico chocada ao ler a que ponto chegam as patrulhas, e me assusta pensar qual será o próximo objeto dessa implacável cruzada em prol, dizem, da saúde. E da economia também, pois curar as doenças provocadas pelo cigarro custa muito caro para a sociedade. Bem, os fins sempre justificaram os meios, não é? O jeito será buscar uma nova forma de morrer aos poucos, pois as paixões nos consomem e fumar é uma paixão. Eu que o diga.

Inteirar-me desses fatos, ― tais como o da recente edição da lei paulista que varre o cigarro dos meios de convívio social, ― me faz lembrar que o cigarro foi a maior paixão de minha vida. Por anos e anos eu fumei todos os cigarros que quis. Era ritualístico. Tinha uma linda cigarreira que custou todo o salário de meu primeiro emprego. Gostava de isqueiros e gostava também de provar as novas marcas. Havia Charme e Ella. Havia Eve, com seus elegantes 120 mm e filtro decorado. Infelizmente este não cabia na minha maravilhosa cigarreira... Havia cigarros coloridos enfeitados com um anel dourado. Vinham em lindas caixas, tipo Box. Fumei todos. E fumei ainda os populares. Não vivia sem. Fumar era a primeira coisa que fazia ao acordar e a última, antes de dormir. Uma paixão, um culto, uma oração. E gostava. Gostava imensamente de fazer o tempo parar. Fumava o tempo todo, especialmente ao escrever. Chequei a consumir dois maços e meio por dia. Eu passei assim de 50 para zero de um dia para o outro. Meus lindos cinzeiros de cristal agora estão vazios. O de porcelana chinesa, todo enfeitado, agora serve para que eu coloque nele o meu pesado molho de chaves.

Quem rompe desse modo costuma dizer “parei e pronto”, exibindo sua força de vontade como um halterofilista exibiria os seus músculos. Verdade, eu parei e pronto, mas confesso humildemente que não foi bem assim, fácil como dizem alguns. Eu nunca havia tentado antes. Sempre quis fumar. Porque deixar “dele” é exatamente como vivenciar um luto. É o amigo que se foi, o companheiro, o amor, a paixão, a companhia, o apoio. Que saudade eu sentia! Ficar sem ele foi mergulhar num vazio imenso, experimentar uma ausência monstruosa que nos faz chorar de saudade daqueles momentos que só os fumantes conhecem. A gente não se sente viver. Lembra do cigarro no café, lembra dele depois do jantar, lembra dele quando assiste um filme, quando escreve. Lembra dele na hora de dormir e perde o sono. Acorda pela manhã e não sente vontade de encarar o dia sem “ele”. As esperas. Ah! Os primeiros meses foram enlouquecedores. Eu cheirava os meus cigarros, mas apenas isso. Não os acendia. Em compensação, eu seguia pelas ruas os que acendiam os seus maravilhosos cigarrinhos. Ia bem atrás, aspirando a fumaça. Rondava os fumódromos também, farejando sem disfarçar.

Deixar de fumar foi terrível, até porque não procurei “ajuda especializada”. Os chatos? Nunca! Jamais faria isso. Amava fumar e detestaria ouvir falar mal de cigarros e de fumantes. Sempre detestei ex-fumantes e seus discursos saudáveis. São chatos, chatíssimos, chatérrimos! Fanáticos, nada teriam a ver com o meu luto. Meu caso com “ele” era assunto meu. Também não usei aqueles adesivos nem tomei remédio algum. Não foi fácil. Eu nem lembrava de mim sem o cigarro, pois comecei a fumar antes dos vinte anos. Não me recordava de mim como gente separada do hábito de fumar. Foi uma fase dolorosa. Mas passou.

É inacreditável, eu sei. Mas passou e, se alguém ousasse me dizer que algum dia o cigarro me seria estranho, eu acharia graça e não daria a menor atenção. Mas passou. Olho para cigarros hoje e não sinto vontade de acender um. Entretanto, convivo muito bem com quem fuma, não me desagrada o cheiro, não me desagrada o hábito tampouco, não me desagrada o vício. Simpatizo com fumantes. Não sou mais, é verdade, mas fui um dia e gostava. Não rompi com meu passado. Não fosse o fato de ter ficado doente, não teria deixado de fumar.

Todavia, eu deixei. Fiquei só. A vontade passou, engordei uns quilinhos que, pra falar a verdade, não me ficaram mal. Meu olfato tornou-se poderoso e o paladar aguçou. Caminho hoje 80 quarteirões em um dia sem sentir falta de ar. Subo as escadas do prédio onde morro sem parar no meio do caminho. Vantagens? Pode ser. Sem dúvida, não precisar sair de dentro de um shopping para fumar, não precisar refugiar-se em algum esconderijo para acender um cigarro e dar uma tragada com pressa, como se fosse um crime ou um pecado, são vantagens das quais o fumante não desfruta. É bom não precisar passar por descomposturas, por caras feias, por discursos e sermões encontrados edificantes, despejados sobre nós sem nenhuma reserva pelas patrulhas ideológicas da brigada anti-fumo. Com tanta coisa pior a combater, perseguem-se os inofensivos fumantes. Simples apaixonados como eu fui um dia, que só fazem mal a eles mesmos. Ora, os pulmões são meus, e a tal poluição provocada pela fumaça dos cigarros não é maior nem mais agressiva do que a fumaça que se desprende dos veículos e mesmo dos incensos que tanta gente zen adora usar. Mas fumar agora se tornou praticamente um crime e não há muito que se possa fazer contra a monstruosa força representada pela opinião.

Estranho, porém, é saber hoje que o cigarro me é indiferente. Tanto esforço de vontade, tanta paixão, tanta frustração e saudade por nada. Nem lembro mais de como eu era quando fumava. Também não lembro mais, concretamente, do tipo de prazer que eu encontrava em fumar. Era bom. Só isso. Não sei como esse desprendimento aconteceu, mas aconteceu. Sou indiferente ao cigarro. Ele não me encanta mais e me pergunto que tipo de prazer eu encontrava nessa relação. Estou melhor sem ele? Pode ser que sim, mas essa questão é mais profunda do que parece. Não passei a odiar cigarros nem fumantes. Também não me alistei na cruzada atual. Não devo a nenhuma campanha o fato de haver deixado de fumar, nem meu coração e ouvidos se abriram às pregações. Além do mais, simpatizo com fumantes, essa minoria oprimida que, ao que parece, está desamparada e vivendo uma autêntica paixão proibida.

6 de agosto de 2009

Tipologia Amorosa

Oi! Olha só...
Bem, sabes o quanto eu gosto de ler artigos de um cara chamado Alain de BENOIST. Pois é. Descobri um resumo que ele fez sobre tipologia dos estilos amorosos e, na hora, me lembrei do traçado que apontaste como rumo de um trabalho do qual falaste: uma palestra de onde o pessoal sai se conhecendo melhor e sabendo aplicar uma fórmula simples e que já vem prêt-a-penser... O texto está em francês e é curto. Refere-se a seis livros escritos sobre o tema entre 1980 e 1992, e eu vou resumi-lo aqui para ti. O negócio é divertido. Primeiro havia três tipos primários de estilos amorosos:
Eros, o amor romântico e apaixonado;
Ludus, o amor com um componente lúdico; e
Storge, o amor com tendência amical.
Depois vinham mais três tipos secundários:
Mania, o amor fundamentado sobre a possessividade e a dependência;
Pragma, o amor calculador; e
Ágape, o amor altruísta ou sacrificial.
Bom, esses três últimos tipos secundários foram postos em relação com casais de tipos primários: Mania, por exemplo, era considerado como uma mistura de Eros e de Ludus, mesmo sendo qualitativamente diferente de um como de outro. Isso foi investigado dez anos mais tarde por um tal de Hendrick que tentou mesmo criar um instrumento de investigação que permitisse a análise fatorial da realidade e a fiabilidade dessa classificação. Outros estudos mais recentes tentaram descobrir em que medida essas seis categorias de amor diferentes podiam ser postas estatisticamente em relação com traços psicológicos particulares. Uns caras chamados Ian Mallandain et Martin F. Davies selecionaram, então, três traços clássicos de temperamento: a Estima de Si, aEmotividade e a Impulsividade e, agora o mais interessante, eles redefiniram as categorias identificadas antes agora usandofrases-chaves. Ficou assim:
Eros: “Meu parceiro e eu fomos atraídos um em direção ao outro logo que nos vimos”.
Ludus: “Prefiro que meu parceiro não se sinta nunca inteiramente seguro dos sentimentos que tenho por ele”.
Pragma: “Antes de me comprometer em uma relação com alguém, esforço-me primeiro em saber que lugar isso vais ocupar na minha vida”.
Ágape: “Eu sempre tento ajudar meu parceiro em momentos difíceis”

Já a Estima de Si foi medida mediante a concordância ou discordância com frases tais como “estou sempre errado” ou “não tenho uma boa opinião sobre mim mesmo”. A Emotividade, com frases tais como “Estou sempre perturbado” “Tudo que acontece reflete sobre mim” e a Impulsividade, “Sempre acho difícil resistir à tentação”, “passo constantemente de um centro de interesse a outro”.
Sabes o que os caras acharam?
Estima de Si foi encontrada correlata a Eros, ou seja, o amor apaixonado vai de par com um sentido agudo da dificuldade em encontrar um parceiro conforme à imagem ideal que se faz de si, mas exige também uma personalidade capaz de aceitar os riscos inerentes a uma tal situação, mas aparece negativamente em relação à Mania, ou seja, quanto mais os indivíduos se mostram decepcionados pela existência e por eles mesmos, mais eles estão prontos a aceitar não importa que parceiro. Isso até era esperado, mas foi encontrada uma relação negativa também com Storge e Ágape.
Como se esperava também, a Emotividade apareceu associada positivamente à Mania, sendo que o tipo maníaco caracteriza-se por uma propensão ao ciúme possessivo e à necessidade de ser sem cessar assegurado sobre a realidade dos sentimentos do outro. Mas também a Emotividade aparece associada a Ludus, quando se poderia pensar que o fato de “jogar” com os sentimentos do parceiro traduzisse uma menor implicação emotiva na relação. De outra parte, contrariamente àquilo em que se poderia acreditar, a Emoção aparece negativamente correlacionada com Eros.
Como previsto a Impulsividade apareceu correlata positivamente com Ludus, mas também, o que não estava previsto, com Mania.
Com exceção de Eros, mais comum entre os jovens, a idade parece não ter influência sobre a propensão ou a escolha de um tipo amoroso de preferência a outro. No plano sexual, as mulheres aderem mais freqüentemente que os homens a Storge e menos freqüentemente que eles ao tipo Ágape.
Em resumo, acho que está aí uma idéia e tanto para ser desenvolvida ao nível das pessoas comuns. Digo isso, porque essa pesquisa foi realizada com vistas à pesquisa, mas não foi, pelo menos no Brasil, popularizada por meio de um livro, aliás, bem do tipo que se venderia em aeroporto.
Pensa nisso. Ninguém melhor que tu para bolar os quadros de classificação e os escores do processo. É simples e, ao que eu saiba, os conceitos todos são prontos...
Beijos!

Nota: isso é cópia de um e-mail que mandei já faz tempo. Mas guardei, e as traças pegaram.

Crimes Animais


A informação nos vem de Lombroso, que cita crimes cometidos por animais. Em nota, na obra O Homem Delinqüente, aduz:

A Lei Mosaica (Êxodo, XXI) condenava à morte por apedrejamento o boi que causasse a morte de um homem, e, se o fato se repetisse, também o proprietário. Na Idade Média, condenavam-se os animais homicidas ou perniciosos à agricultura (Lacassagne). Já no reinado de Francisco I, davam-lhes um advogado. Em 1356, em Falaise, uma porca que havia devorado uma criança foi condenada a morrer pela mão do carrasco. O Bispo de Autum escomungou ratos que haviam roído objetos sagrados. Benoist Saint-Prix registra 80 condenações desse gênero, atingindo todo tipo de animais, desde o asno até a cigarra. A municipalidade de Torino comprara da Santa Sé, por intermédio do embaixador, uma maldição contra lagartas, e o bispo, em grande pompa, acompanhado do prefeito e assessores, proclamava-a do alto de um palanque armado na praça do castelo. Os processos desse tipo também eram freqüentes. Em Verceil, houve um grande debate sobre a questão de saber se certas lagartas deveriam ser julgadas pelo tribunal civil, ou pelos tribunais eclesiásticos, porque haviam danificado as vinhas da paróquia (Lessona, 1880, Turim)”. LOMBROSO, César. O Homem Delinqüente, Ricardo Lenz Editor, Porto Alegre, 2001.

2 de agosto de 2009

Frio

O frio voltou, o inter perdeu, e a vida é mesmo isso, por assim dizer. Lutos, canseiras, decepções, esperas. Idas e vindas. E mais perdas que ganhos. Perde-se o que se tem, e ainda o que se pensava ter, bem como vaticina a admoestação bíblica, aos moldes dos castigos e das penas eternas. É saudades também dos mortos que ainda vivem.

Reclames de Antigamente

O Estrangeiro

"A culpa não é minha" - pg. 47.

Edição com prefácio de Sartre que diz:

Certo é que o absurdo não está no homem nem no mundo, se os tomamos separadamente; mas como é o caráter essencial do homem o "estar no mundo", o absurdo é, em suma, unitário com a condição humana.

Ironia...

Encontrado dentro de um livro de Bertrand Russel.

Por assim dizer...

Por assim dizer é não dizer nada, e dizer muita coisa também. Nada contra nem a favor. Antes pelo contrário. Aliás, a mesma coisa acontece com o tal de aliás... Aliás, desde criança essa palavra me intriga profundamente. Coisa de adulto, do que poderia ser de outro modo se não fosse assim.

Reclames de Antigamente

AS CARTAS XXIII


Observações:A história de amor de Francisco e Maria estava tensa nos últimos meses de 1924. Na carta anterior, a do dia 30 de outubro (AS CARTAS XXII), ele implora para que ela volte a lhe escrever. Depois desta data, encontrei ainda estes dois cartões. O menor, perfurado, sugere que tenha acompanhado flores. Clássicas rosas vermelhas? Não sei. O outro cartão, maior, estava em um envelope que nada indica tenha passado pelos Correios. Seriam felicitações pelo aniversário entregues por alguém na casa de Maria? Muito provavelmente, sim, com direito a flores. Francisco demonstrou não ter esquecido a data, e se fez presente, ainda que angustiado, na ausência de notícias de sua amada. De 1924, localizei apenas mais duas cartas. Uma é do dia 7 de novembro e a outra de 15 de dezembro.
Essas cartas são um tesouro literário que ilustra não apenas uma verdadeira história de amor que teve lugar entre dois jovens, mas também como se passou esse amor nos anos 20 em Porto Alegre. Amor vivido por um homem culto, educado, refinado em sua estética e uma mulher que ele mesmo define de maneira adorável através de sua letra pequena, frágil, nervosa, como se fosse a imagem de tua sensibilidade, em extremo desperta, ao alarme das menores impressões.
Quem ainda não conhece o que vêm a ser AS CARTAS, basta procurar nas postagens mais antigas, a explicação disso. Querendo ver tudo, na barra superior, à esquerda, basta digitar na guia "pesquisar no blog" a expressão AS CARTAS e todas as postagens anteriores vão aparecer em ordem mais ou menos cronológica. Há mais cartas, muito mais. E na medida do possível eu vou mostrá-las a vocês aqui no Traças, Ácaros & Cia.

AS CARTAS XXII


Carta de Francisco para Maria de 30 de outubro de 1924.

Maria,
Há tanto tempo, há tanto! Que não me dás a alegria de ler qualquer cousa que mandas, através de tua letra pequenina, frágil, nervosa, tal se fosse a imagem da tua sensibilidade, em extremo desperta, sempre, ao alarme das menores impressões...
Por que não continuaste a escrever-me? Acaso terás o propósito de por, agora, o ponto final na nossa correspondência? Não sei de motivo algum para isso. Se os há, eles se ocultam tão fundo no interior de teu espírito, e nunca vêm à tona para a graça de uma revelação... Minha profunda amiga!...
Ouve: eu exijo uma explicação de teu silêncio. Sabes? Pensa na significação desta exigência. Porque, se não me explicares, eu... eu... implorar-te-ei,de joelhos, o favor acariciante de uma resposta, para o sossego de minha alma.
Do Francisco.

É.

É, sim. As Traças e os ácaros voltaram a aparecer. Quantas coisas postadas aqui! Coisas que eu nem lembrava mais que havia lembrado de escrever. Fragmentos de memórias descosturadas, paginas marcadas, linhas, frases e poeira. Hoje revi até o primeiro dia o que fui trazendo para cá, para este meu canto, um outro armário da minha vida, uma outra prateleira, só que virtual. Esteve fechada, mas agora se abriu novamente, embora de outro jeito. Continua cheia de coisas, menos umas ou outras que eram menos minhas, por assim dizer.