25 de dezembro de 2022
Então, hoje
Bergson. Desceu ontem da estante, e desde então nos ocupamos de metafísica. Logo mais vamos proceder a uma leve desconstrução de Kant. (Itálico, porque não creio que ele adotasse esse termo tão raso.) Já cheguei no parágrafo e parei um pouco antes de prosseguir na tradução. Tantos anos lendo o que ele escreveu, e percebendo que aquilo que ele disse se torna cada vez mais atual. Há mesmo prazeres indizíveis e encontros insuspeitos, a despeito do Tempo, a despeito do Espaço, a despeito mesmo da estrutura da Linguagem.
24 de dezembro de 2022
22 de dezembro de 2022
Há tempos...
Há tempos misteriosos ao longo dos quais a gente sai de si. É difícil, pois é preciso superar o peso do corpo ancorado na gravidade. Um fardo que é o corpo, o peso do ar que fica tão denso às vezes, quando entra pelos pulmões como se fosse uma gelatina que insiste em não sair de lá. Há um peso a superar, até que finalmente se sai de si. Mais que sono. Mais que sonho. Leveza. Desligamento. Tão bom o anti-mundo, a anti-existência, o não-eu: a plenitude do nada.
20 de dezembro de 2022
Por aí com a miga Aninha
Tem horas que rola aquele passeio corrido de final de semana. Meio improvisado, porque o mundo gira depressa, e as rotinas se alteram sem parar. Mas a miga liga e tudo é combinado na hora. Busão das onze e meia, com lanche no caminho, meia hora pra banheiro, café, batom e segue o baile. Chegada na canseira e já vamos para praia, porque o sábado amanheceu com nuvens, e a grande roda é um gigante que gira. A vida, afinal,é agora mesmo, e até o Natal se adianta nas luzes e nos reflexos. A gente vai correndo e a gente volta quase parando na 101 bloqueada pela chuva, e encara a vida com salgados e doçuras, domingos e segundas.
Valeu, miga! A gente é mesmo da hora.
13 de novembro de 2022
Insistência
8 de novembro de 2022
Encontro
Hoje, tempos em que se aprendeu a viver num
agora que é para sempre, não temos mais a memória do tempo em que se dizia não
quando se queria dizer sim, e vice-versa. Nada mais sabemos dos desejos
velados, nem dos amores contrariados, obrigados a viver numa espécie de
masmorra cordial. Somos, no presente, muito ricos dessas máquinas que semeiam
letras perfeitas numa folha de papel eletrônica, à qual falta, no entanto, a
aspereza do atrito, o cheiro da tinta, a marca da hesitação assinalada no
tremor da escrita.
.....
Encontro meus pensamentos espalhados por aí e me reconheço por simpatia. Dez anos se foram desde o Diário de Francisco, e parece que a dinâmica do tempo que identifiquei apenas por convicção literária bem poderia ser filosófica, aliás, em boa parte.
2 de novembro de 2022
O Artista
O artista romântico figura o porta-voz de uma verdade que ele é o único a poder transmitir. Sua valorização do sonho e do sobrenatural, seu gosto pelos grandes sentimentos e sua paixão pelo inútil opõem-se ao materialismo, ao positivismo e, sobretudo, ao utilitarismo social. Frequentemente incompreendido, marginal ou revoltado contra a antiga ordem, o artista romântico parece-se muito com o “eremita de Croisset”.
CASIN-PELLEGRINI, Catherine, Notas apud Flaubert, Gustave. Lettres à Louise Colet, Paris: Magnard, 2003, p. 161. (Tradução livre das autoras)
Notinha: O eremita de Croisset é Gustave Flaubert.
28 de outubro de 2022
Provérbio Irlandês
"Vassoura nova varre bem, mas vassoura velha conhece os cantos."
Seleções do Reader's Digest, out/1977,contracapa.
21 de outubro de 2022
De passagem
Porque tenho coisas a fazer e por fazer. E porque os fazeres são múltiplos, mas os pensares, estes.... ah! esses são secretos, profundos, inconfessáveis.
16 de outubro de 2022
13 de outubro de 2022
Apocalittici e Integrati
O Midcult e seu in e out, a vanguarda de uma arte superior vedada ao homem médio, cidadão da civilização industrial contemporânea, irrecuperável. Mas atenção à diferença entre sensibilidade crítica e tic snobístico que é ínfima. A crítica da cultura de massa acaba por se tornar ela mesma um produto de massa, quando o bom e o mau gosto se tornam categorias flexíveis, que podem servir para definir a funcionalidade de uma mensagem que provavelmente se presta a outras funções, seja no contexto de um grupo, seja no de uma sociedade inteira. Enfim, dificilmente as coisas são redutíveis a definições de belo ou Kitch.
Eco não deixa sequer de entrar no tema complexo que é definir uma obra de arte. E o faz magistralmente, propondo que a obra de arte é uma narração que produz figuras capazes de se tornarem modelos de vida e emblemas substitutivos de juízos de nossa experiência. A obra de arte, portanto, é capaz de inspirar e de influir, de modificar a forma como experimentamos o estar no mundo.
Eis aí questões sobre as quais é preciso refletir. Mais que optar, escolher, ou definir-se, é preciso entender o contexto em que vivemos, não necessariamente apocalípticos nem necessariamente integrados. A perspectiva que Eco nos descortina nessa obra é bem mais ampla que a de simplesmente deixar-se levar pela sedução de uma ou outra possibilidade, no reducionismo simplista do contra ou a favor. Para tanto, basta pensar. Um pouco trabalhoso, é verdade, mas altamente compensador. Como a leitura de Eco, que, na década de 1960, já avaliava tão bem o impacto que o incremento da comunicação de massa, que apenas começava, teria em nossa sociedade
Fonte: ECO, Umberto. Apocalittici e Integrati. Milano: Bompiani, 1965.
12 de outubro de 2022
Pensando bem
9 de outubro de 2022
5 de setembro de 2022
Meu Jardim
A expressão é esta: a mudinha "pegou". A gente diz bem assim, quando traz para casa uma planta qualquer que se quer por perto. Pois esta aí não apenas "pegou" como ainda floresceu. Uma semana ontem que aqui chegaram junto com as outras todas lá de Maristela. As amarelinhas foram arrancadas de um cômoro de areia, junto com uma "corda" de onze-horas extraídas com raiz e tudo, violentamente, obra de ogro que, vez por outra, resolve casos assim de foma definitiva. Primeira parada do bate-volta à praia, porque precisava ver o mar, apanhar pedras e olhar se havia flores. Havia, sim, onze horas rosadas e, mais adiante, perto de um banco feito de madeira e pedra, uma amarelinha toda colorida. Veio florida e murchou ao longo da semana, enquanto preparava o botão que abriu assim: completo, sorridente, absoluto.
A saber se os galhos de alecrim e mais a muda de hortelã vão se adaptar à mudança que, de um jardim, os relocou ao parapeito da pequena janela da salinha da TV, perto da cozinha: improvisos metropolitanos. Alecrim para dar sabor ao arroz; hortelã para fazer tabule qualquer hora. Todos em harmonia, ao lado do manjericão (sem ele não há molho vermelho que preste) e do tomilho (aquele gostinho de o que foi, mesmo?).
E assim o jardim vai ganhando novidades. Eu que me estranho, pois nunca fui muito de cuidar de plantas e, agora, me pego assim, observando essas criaturas. Ando até germinando sementes, tipo as macieiras que estão brotando lá na janela. Talvez eu tenha "pegado" o jeito. É um exercício de paciência observar mudanças tão sutis, silenciosas, que tornam essas formas de vida companhias discretíssimas. Plantas são sutis, mas sabem reagir na hora certa. Mostram sua satisfação ao gostarem de algo, e sabem como reclamar.Há tristezas também. Receio que meu bouganville não voltará nesta primavera. Secou e não vejo nenhum sinal verde em seus galhos secos e quebradiços. Meus gerânios encruaram. O rosa, que floresceu, acabei quebrando. Imperdoável gesto de apressada estupidez. O vermelho não dá sinais de floração. Quanto aos feijões mágicos, apenas duas vagens em preparação. A saber dos brincos-de-princesa, planta que minha avó, Dona Josephina, adorava. Depois de passarem por vários cômodos da casa, se deram bem na sacada, e pararam de perder folhas e botões, como fazem essas plantas, quando se estressam.
Convívio interessante. Plantas e pessoas têm seus traços inconfundíveis de personalidade, e exigem ser tratados cada um do seu jeito. Violetas, por exemplo, só querem paz. Quanto mais quietas, melhor. Não gostam de ser tocadas, principalmente quando florescem. São tímidas. As suculentas também não se prestam a intimidades. As espadas, todavia, parecem gostar muito daqui, porque crescem e se multiplicam em brotos cheios de vida. A coroa-de-cristo miniatura até cresceu um pouco, e parece haver se adaptado à vinhança de uma palmeira depressiva, que despenca as folhas e vive fragilizada, sempre insatisfeita. Os cactos são excêntricos e definitivamente exibicionistas. Na cozinha, uma curiosidade cheia de espinhos: supostamente comestível, dizem que é uma planta medicinal. Desde que chegou não para mais de crescer e, sempre que pode, me arranha. Parece-me bastante hostil. Em compensação, os trevinhos são pura alegria. Dormem à noite e se fecham em certas horas do dia. Em compensação, descobri que, sempre que chove, se enfeitam de diamantes e brilham olhando para rua. Minhas heras trepadeiras têm a serenidade dos estrategistas. Aos poucos, lentamente, vão tomando conta dos espaços, lançando guias para todo o lado, já alcançaram uma parede.
No meu jardim, não cultivo apenas plantas. Meu jardim é lugar de sabedoria e de aprendizado, porque, com as plantas, tenho aprendido a observar ações e reações cheias de sutileza: um exercício diário de paciência, já que o tempo do meu jardim tem outro ritmo e significação. Com tempo e paciência, aprende-se a esperar, dando ao tempo o seu próprio sentido que é o de oscilar, paradoxalmente, entre o sempre e o nunca.
31 de agosto de 2022
Agosto que se vai
Ah, sim. Tem sempre algo nas palavras. E agosto é palavra carregada dessa alguma coisa rimada, ritmada. Agosto. Parece sempre carregado de desgostos, embora tenha até gosto inserido. Agosto das mortes. Sabe-se lá por qual razão, visto que se morre o ano inteiro. Todavia, mortes de agosto são clássicas. Mais enlutadas que outras talvez. Agosto. Tem ainda os comentários cheios dessa sabedoria que se quer tão sábia, tipo passou agosto, então se salva. Bem, este se foi, ou quase. E nem lembrava de que havia 31 dias para viver. Esse um a mais que adia os boletos mas que também atrasa os pagamentos. Pois é. Vida, Vidinha. Traz gostos e desgostos, mas sabe a primaveras também.
23 de agosto de 2022
Banalidade
Dia desses, eu me perguntava sobre o sentido da banalidade. Descobri que, em certos momentos da vida, simpatizo com ela. Espécie de refúgio, de zona neutra para onde posso fugir sempre que me afligem questões existenciais ao estilo xeque-mate: o meu tempo, a minha vida, as minhas escolhas. Que liberdade se tem frente ao tempo? Nossas preferências. Frente à vida? Nossos prazeres. Escolhas? A valer a frase batida que coloca coração versus razão, escolhas são e sempre serão paradoxais. É bem quando a banalidade faz, sim, todo sentido.
13 de agosto de 2022
Feijões Mágicos
O pé não chegou às nuvens nem ao castelo onde mora o gigante que possui o tesouro. Acabou morrendo seco, não sem antes fornecer flores, que viraram vagens que abrigaram alguns feijões que me dei ao trabalho de guardar junto com pedras que junto por aí, mas que não atiro em ninguém, bom esclarecer.
Mas, enfim, voltando aos feijões, fato é que guardei as sementes aqui nascidas e, há alguns dias, replantei os feijões, creio que uns oito, em vasos de plantas aqui de casa. Nasceram todos. Uns fraquinhos, outros mais fortes. Esta é a primeira flor, descoberta na manhã de hoje. Sutil, delicada, complexa, timidamente voltada para baixo em sua simplicidade. Ainda assim, inspiradora, me deixando com vontade de escrever, de imaginar, de remoer ideias e presságios. Bem assim.
30 de julho de 2022
Apenas eu
Sabor de tempo. Inexplicável, mas inconfundível. Fortuna que quanto mais se conta mais aumenta. Riqueza das riquezas és tu, tempo, tecido da vida, por vezes tão sutil que se pensa perdido; outras, tão denso; e outras ainda, como agora, com sabor de sábado à noite, embalado pelo silêncio e acariciado pela solidão. O escuro e as vozes distantes mapeiam as sombras. Aromas cruzados confundem o olfato que se apura pela imaginação: penso em café, e no estar em casa. Penso nessa imensidão que me pede para estar aqui, agora mesmo, atenta às palavras que aparecem sozinhas, enfileiradas, fazendo sentido que não decifro, mas que saberei ler logo ali, quando voltar a ser apenas eu.
22 de julho de 2022
20 de julho de 2022
13 de julho de 2022
Esperar
Dias de julho. Entre expectativas e desapontamentos. Penso em Saturno: ele me ensinou a esperar, porque é dele a Eternidade.
5 de julho de 2022
Inutilidade
30 de junho de 2022
21 de junho de 2022
18 de maio de 2022
Eu acho...
11 de abril de 2022
10 de abril de 2022
Rien de rien
Disso não sei mais, M*. Aprendi a confiar na descrença. É um tipo de fé tão boa quanto a outra. Descobertas minhas: confiar na descrença, que é [bem] menos desgastante. Ah! Mas não me venha falar que sou dura ou coisa que o valha. Só queria dizer isso mesmo. Todo ser humano tem fé, mas a de algumas pessoas simplesmente se sustenta de alguma coisa mais prosaica. Eu sei bem como é acreditar, e sei bem como é depois ver as coisas nas quais se acreditou assumirem outros contornos. É da vida. Não discuto. Fé, afinal, a gente sempre tem, ainda que seja no nada. O nada, afinal, é o Nada, ora! Rien de rien.
Ainda mais
3 de abril de 2022
31 de março de 2022
Fotografia
Porque se vai e se volta, mas nunca os mesmos que vão nem que retornam. Nunca é o mesmo lugar nem o mesmo segundo exatamente...
A não ser assim.
A não ser na fotografia.
Eternidades, etc.
29 de março de 2022
25 de março de 2022
22 de fevereiro de 2022
Inveja
Sim.
Pois é.
Que inveja me dá.
Dia de não sei
Porque duvidar é fundamental.
30 de janeiro de 2022
28 de janeiro de 2022
Tudo muito estranho
Em que pese o lugar comum, insisto em escrever que o mundo está muito estranho. E, se não for o mundo, sou eu mesma que estou assim. De boa, porém. Loucura por loucura, a estranheza é um asilo, um refúgio para os desconcertantes e desconsertados. Sutilmente falando, é claro.