Hoje, tempos em que se aprendeu a viver num
agora que é para sempre, não temos mais a memória do tempo em que se dizia não
quando se queria dizer sim, e vice-versa. Nada mais sabemos dos desejos
velados, nem dos amores contrariados, obrigados a viver numa espécie de
masmorra cordial. Somos, no presente, muito ricos dessas máquinas que semeiam
letras perfeitas numa folha de papel eletrônica, à qual falta, no entanto, a
aspereza do atrito, o cheiro da tinta, a marca da hesitação assinalada no
tremor da escrita.
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Encontro meus pensamentos espalhados por aí e me reconheço por simpatia. Dez anos se foram desde o Diário de Francisco, e parece que a dinâmica do tempo que identifiquei apenas por convicção literária bem poderia ser filosófica, aliás, em boa parte.