O apaixonante Bertrand Russel deveria ser lido diariamente para tonificar nossos cérebros. Ele morreu velhinho, escrevendo com vigor e, sobretudo, com sua costumeira e admirável irreverência, coisa que hoje gelaria de terror alguns acadêmicos, chatos ao extremo, que diuturnamente devem dedicar todos os seus esforços para obterem, receio que com sucesso, o engessamento completo da expressão, submissa a fórmulas que aniquilam a individualidade pelo emprego de regras impostas à edição de textos e artigos científicos.
Gosto, então, em contrapartida, de mostrar o lado maroto de homens que, — ninguém duvida, contribuíram para com a criação da própria ciência, — homens que jamais deixaram de mostrar-se em seus textos, descobrindo-se perante o leitor. Spencer, — que até os trinta anos não tinha grande noção do que era filosofia — Bergson, Gabriel Tarde e Bertrand Russel, todos presentes na minha biblioteca e neste blog, mostram essa força em suas obras, e creio que é justamente aí que reside o fato de elas nos encantarem até hoje, não obstante sua alegada obsolescência.
Essas passagens são de Bertrand Russel:
...the existence of universe is an empirical fact. It is true that if the word did not exist, logic-books would not exist; but the existence of logic-books is not one of the premises of logic, nor can it be inferred from any proposition that has a right to be in a logic-book.
Para ele, foi a presunção humana, “chocada com a revelação de seu parentesco com o macaco”, que encontrou um meio de se afirmar: “esse meio é a filosofia da evolução. O processo que levou da ameba ao Homem pareceu aos filósofos um progresso patente — conquanto não se saiba se a ameba concorda com essa opinião”.
Não, ele também não foi nada complacente com os filósofos. Na conferência “Herbert Spencer”, Oxford, 1914, publicada na obra referida sob o título Sobre o método científico em filosofia, afirmou: “Dizem-nos que a vida orgânica se desenvolveu gradualmente dos protozoários ao filósofo, desenvolvimento que nos garantem ser indubitável melhora. Infelizmente, é o filósofo, não os protozoários, que o afirmam...”.
Em que pese o darwinismo ter seguidores do quilate de Huxley, Russell fez ressaltar a grande polêmica gerada em torno da questão atinente a um ancestral comum entre homens e símios. “Eu desconfio — disse ele — que tal suposição possa ofender aos macacos, mas, em todo caso, pouca gente se aborrece com isso nos dias de hoje”.
“De um modo qualquer — diz ele — sem afirmativa explícita, insinua-se a garantia de que o futuro, embora não possamos prevê-lo, será melhor que o passado ou o presente: o leitor é como a criança que espera um doce porque lhe disseram que abra a boca e feche os olhos”.
“O escravo é condenado a adorar o Tempo, o Destino e a Morte, porque são maiores do que tudo o que ele encontra em si mesmo, e porque todos os seus pensamentos são de coisas que essas forças devoram”.