9 de novembro de 2008

Eugênia Grandet

Terrível condição do homem! Não há uma só de suas felicidades que não venha de uma ignorância qualquer. (p. 87)

Os avarentos não acreditam numa vida futura, o presente é tudo para eles. Esta reflexão joga uma horrível clareza sobre a época atual, onde, mais que em nenhum outro tempo, o dinheiro domina as leis, a política e os costumes. Intituições, livros, homens e doutrinas, tudo conspira para minar a crença em uma vida futura sobre a qual o edifício social se apóia há dezoito séculos. Agora o ataúde é uma transiçao pouco temida. O amanhã que nos esperava além do réquiem foi transposto para o presente. Chegar por todos os meios, legítimos ou não, ao paraíso terrestre do luxo e dos gozos vaidosos, petrificar seu coração e macerar-se o corpo à vista de posses passageiras, como sofria-se outrora o martírio da vida à vista de bens eternos, é o pensamento geral. Pensamento, aliás, escrito em toda parte, até nas leis que perguntam ao legislador: "Que pagas tu?" em lugar de dizer-lhe: "Que pensas tu?" Quando esta doutrina houver passado da burguesia ao povo, que acontecerá ao país? (p. 142)