Terrível condição do homem! Não há uma só de suas felicidades que não venha de uma ignorância qualquer. (p. 87)
Os avarentos não acreditam numa vida futura, o presente é tudo para eles. Esta reflexão joga uma horrível clareza sobre a época atual, onde, mais que em nenhum outro tempo, o dinheiro domina as leis, a política e os costumes. Intituições, livros, homens e doutrinas, tudo conspira para minar a crença em uma vida futura sobre a qual o edifício social se apóia há dezoito séculos. Agora o ataúde é uma transiçao pouco temida. O amanhã que nos esperava além do réquiem foi transposto para o presente. Chegar por todos os meios, legítimos ou não, ao paraíso terrestre do luxo e dos gozos vaidosos, petrificar seu coração e macerar-se o corpo à vista de posses passageiras, como sofria-se outrora o martírio da vida à vista de bens eternos, é o pensamento geral. Pensamento, aliás, escrito em toda parte, até nas leis que perguntam ao legislador: "Que pagas tu?" em lugar de dizer-lhe: "Que pensas tu?" Quando esta doutrina houver passado da burguesia ao povo, que acontecerá ao país? (p. 142)