6 de novembro de 2010

A Polidez

Enfim, sobre todas a almas assim falseadas, estende-se a maquilagem obrigatória da polidez, este sinal distintivo de povos tanto mais ardilosos, quanto mais antigamente civilizados, como os chineses. Até onde não chegará a hipérbole dos obituários, por exemplo, esta hipocrisia cuja suspensão seria um escândalo? Se os Alcestes se tornam cada vez mais raros, é porque a franqueza é uma causa de insociabilidade sempre crescente. A multiplicação das relações pessoais e, por conseguinte, das conversações, desenvolve a maledicência, e a maledicência, a duplicidade. Com efeito, se fosse criada uma lei no mundo de não se poder apertar a mão nem se mostrar simpático a qualquer um de quem se acaba de falar mal, acabaríamos por nos indispor com todos os conhecidos.
Gabriel Tarde