5 de novembro de 2010

A eloquência dos silêncios

É necessário chegar a um alto grau de intimidade afetuosa para poder permitir-se, quando dois amigos estão juntos, guardar longo tempo de silêncio. Entre amigos que não são muito íntimos, entre indiferentes que se encontram num salão, a palavra sendo o único liame social, desde que este único liame vem a se romper, um grande perigo aparece, o perigo de ver revelar-se as mentiras da polidez, a ausência total de um relacionamento profundo, a despeito dos sinais exteriores de amizade. Esse silêncio glacial, quando ele aparece, consterna como um rompimento de véus pudicos, e faz-se de tudo para evitá-lo. Atira-se, ao fogo da conversação que vai se extinguindo, tudo aquilo que vos vem ao espírito, seus segredos, os mais caros, aquilo em que se tinha o maior interesse em não dizer, como no momento de um naufrágio, atira-se ao mar os pacotes mais preciosos, para retardar a submersão. O silêncio, em meio a uma conversa de salão, é o descarregamento do navio em meio ao oceano.
Gabriel Tarde