26 de novembro de 2020
24 de novembro de 2020
Natal tóxico
23 de novembro de 2020
22 de novembro de 2020
Então, Cecília
De longe te hei-de amar
De longe te hei-de amar
– da tranquila distância
em que o amor é saudade
e o desejo, constância.
Do divino lugar
onde o bem da existência
é ser eternidade
e parecer ausência.
Quem precisa explicar
o momento e a fragrância
da Rosa, que persuade
sem nenhuma arrogância?
E, no fundo do mar,
a Estrela, sem violência,
cumpre a sua verdade,
alheia à transparência.
Cecília Meireles, em “Canções”. Editora Livros de Portugal, 1956. Fonte: Revista Prosa Verso e Arte
Desespero
GUIMARÃES ROSA, João. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994, p. 210
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O Homem Virtual
"O homem virtual, imóvel diante de seu computador, faz amor pela tela e dá seus cursos por teleconferência. Torna-se um paralítico físico, mas, sem dúvida, também cerebral. Só assim consegue ser operacional. Da mesma maneira que se pode prever que os óculos ou as lentes de contato um dia se tornarão próteses integradas de uma espécie na qual o olhar terá desaparecido, também se pode temer que a inteligência artificial e seus suportes técnicos se tornem a prótese de uma espécie na qual o pensamento terá desaparecido."
BAUDRILLARD, Jean. La transparencia del mal. Ensayo sobre los fenómenos extremos. Tradução de Joaquín Jordá. Barcelona: Anagrama, 1991, p. 173-4.
21 de novembro de 2020
Reclames de Antigamente
17 de novembro de 2020
Sei lá
Discretamente
15 de novembro de 2020
Então...
“J’ai besoin de reconstituer l’histoire de notre amour pour en
saisir tout le sens. C’est elle qui nous a permis de devenir qui nous sommes,
l’un par l’autre et l’un pour l’autre. Je t’écris pour comprendre ce que j’ai
vécu, ce que nous avons vécu ensemble.”
GORZ, André. Lettre a D. Paris: Galilée, 2006.
________
A propósito da história de amor que marcou a vida (e a morte) de André Gorz e sua Dorine.
Despejo
Parece que os moradores dessa grande colmeia foram despejados. Pudera! Construir justamente em uma das janelas da fachada do Foro da Comarca de Montenegro! Pois é. Despejados. Liminarmente.
14 de novembro de 2020
Provisória & Improvisada
12 de novembro de 2020
Grande Sertão: Veredas
“Hoje, eu penso, o senhor sabe: acho que o sentir da gente
volteia, mas em certos modos, rodando em si mas por regras. O prazer muito vira
medo, o medo vai vira ódio, o ódio vira esses desesperos? – desespero é bom que
vire a maior tristeza, constante então para o um amor – quanta saudade... ; aí,
outra esperança já vem... Mas, a brasinha de tudo, é só o mesmo carvão só.
Invenção minha, que tiro por tino. Ah, o que eu prezava de ter era essa
instrução do senhor, que dá rumo para se estudar dessas matérias...”
GUIMARÃES ROSA, João. Grande
sertão: veredas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994, p. 323.
Mais um dia
Um a um, como as contas do rosário
10 de novembro de 2020
Por Não Estarem Distraídos – Clarice Lispector
"Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que, por admiração, se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria e peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque – a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras – e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos."
Clarice Lispector. A Descoberta do mundo: crônicas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984, p. 508). Recuperado de: A Magia da Poesia
Quando vier a primavera
Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.
Alberto Caeiro “Quando
vier a Primavera” de “Poemas Inconjuntos”. in: Poemas de Alberto Caeiro.
Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de
Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (10ª ed. 1993). – 87. Recuperado de: Revista Prosa e Verso.
Pensando bem...
Coerência na escrita... os sentidos de uma abordagem... Pensando sobre isso, acredito que falta bem pouco para eu me convencer de que a realidade depende apenas de mim. Hoje ao menos, agora, nesse instante, ela é o resultado de uma bricolagem de informações que me chegam pelos sentidos. É o gosto deste café cujo cheiro invade a casa,e a música que ouço agora, são as palavras que me ocorrem não sei de que canto do meu pensar e que me saem pelas pontas dos dedos, enquanto a caneta tinteiro me observa de soslaio, meio abandonada... Coerência na escrita. Que sentido conceder a um real que é intuição só minha? Ainda mais agora, quando me dou conta da tua falta, para organizar as coisas, me dizer para onde olhar, o que fazer de tudo isso, deste hoje, desta manhã, deste instante de mim
8 de novembro de 2020
Memorial das Saudades
Não creio que algum dia tenhas sentido falta de companhia. Quem convive com livros e com música até prefere a solidão. Além disso, nossa interioridade sempre foi habitada. Contudo, o menino tinha de estar mesmo contigo, para nunca te esqueceres da importância daquilo que, como as bolhas de sabão, não dura mais que breves instantes. O suficiente, no entanto, para superar a perenidade do mundo, mas nunca a gratuidade da morte.
6 de novembro de 2020
Mais Cecília
Cântico II
Não sejas o de hoje.
Não suspires por ontens...
não queiras ser o de amanhã.
Faze-te sem limites no tempo.
Vê a tua vida em todas as origens.
Em todas as existências.
Em todas as mortes.
E sabes que serás assim para sempre.
Não queiras marcar a tua passagem.
Ela prossegue:
É a passagem que se continua.
É a tua eternidade.
És tu
5 de novembro de 2020
Poesia
Máquina breve
O pequeno vaga-lume
com sua verde lanterna,
que passava pela sombra
inquietando a flor e a treva
— meteoro da noite, humilde,
dos horizontes da relva;
o pequeno vaga-lume,
queimada a sua lanterna,
jaz carbonizado e triste
e qualquer brisa o carrega:
mortalha de exíguas franjas
que foi seu corpo de festa.
Parecia uma esmeralda
e é um ponto negro na pedra.
Foi luz alada, pequena
estrela em rápida seta.
Quebrou-se a máquina breve
na precipitada queda.
E o maior sábio do mundo
sabe que não a conserta.
Cecília Meireles (1901-1964)
3 de novembro de 2020
Quando a gente não precisa dizer mais nada
2 de novembro de 2020
Pinacoteca
Janelas abertas como quadros que emolduram quadros. A luz refletida nos brancos, e o estilo inconfundível do prédio onde mora a Saudade de Almeida Júnior, que visitávamos cerimoniosamente.