“Que advirá ao jovem compelido a essa miserável sociedade, aquela das prisões? Pela primeira vez, ouvirá ressoar, em seus ouvidos, a longa barbárie dos Cartouche e dos Poulailler, a ignóbil gíria. Infeliz desse jovem, se não se puser, imediatamente, a seu nível, se não adotar seus princípios e sua linguagem. Seria declarado indigno de estar ao lado de seus ‘amigos’! Suas reclamações não seriam ouvidas pelos próprios guardas que se inclinam sempre a proteger os chefes. O jovem não obteria outro resultado senão o de excitar contra si a cólera do carcereiro que é, de hábito, um antigo forçado. Em meio a essa vergonha, a esse cinismo de gestos e palavras, o infeliz enrubesce com o resto de pudor e de inocência que tinha ao entrar. Arrepende-se de não haver sido tão criminoso quanto seus confrades. Ele teme seus brocardos, seu desprezo, e isso explica a razão pela qual certos forçados se acham melhor aí do que no seio da sociedade onde não recolheriam senão desdém. Quem, pois, consentiria em viver desprezado? Assim o jovem toma como exemplo esses bons modelos... Em dois ou três dias chegará a falar sua língua e, então, não será mais um pobre simplório: os amigos poderão apertar-lhe a mão sem medo de se comprometer. Observe-se bem que não é senão aí que aparece a glória por parte desse rapaz que enrubescia ao passar por noviço. A mudança operou-se na forma mais que no fundo. Dois ou três dias passados nessa cloaca não poderão pervertê-lo inteiramente, mas tranqüilizem-se: o primeiro passo foi dado e ele não ficará no meio do caminho”.
O texto é de autoria de Pierre François Lacenaire (1800-1836) que foi poeta e também um famoso assassino. A citação aparece em LOMBROSO, César. O Homem Delinqüente, Ricardo Lenz Editor, Porto Alegre, 2001, Cap. XII, dedicado à Literatura dos Criminosos, pág. 492.