21 de abril de 2009

O Prazer em Perspectiva. A Esperança

A esperança é filha do desejo, mas não é o desejo. Ela constitui uma aptidão mental que nos faz acreditar na realização de um desejo. Pode-se desejar uma coisa sem esperá-la. Todo mundo deseja a fortuna, poucos a esperam. Os sábios desejam descobrir a causa primeira dos fenômenos, mas eles não têm nenhuma esperança de chegar a tanto.
O desejo aproxima-se às vezes da esperança a ponto de confundir-se com ela. Na roleta, desejo e espero ganhar.
A esperança é uma forma de prazer em expectativa que, em sua fase atual de espera, se constitui em uma satisfação frequentemente maior que aquela produzida pela realização.
A razão disso é evidente. O prazer realizado é limitado em quantidade e em duração, enquanto nada limita a grandeza do sonho criado pela esperança. O poder e o encanto da esperança é conter todas as possibilidades de prazer.
Ela se constitui em uma espécie de varinha mágica que transforma todas as coisas. Os reformadores não fazem outra coisa que não seja substituir uma esperança por outra.

LE BON, Gustave. Les Opinions et les Croyances, Flammarion, Paris, 1911, p. 23.