21 de abril de 2009

Estritamente falando...


ORTEGA Y GASSET, José. Estudos sbre o amor, Livro Ibero-Americano Ltda, Rio de Janeiro, 1960.

Estritamente falando, não há ninguém que veja as coisas em sua nua realidade. O dia que isto aconteça será o último dia do mundo, a jornada da grande revelação. No entanto, consideramos adequada a percepção do real que, em meio à sua névoa fantástica, nos deixa prender, quem sabe, o esqueleto do mundo em suas grandes linhas tectônicas. Muitos, a maioria, não chegam nem a isso: vivem de palavras e sugestões; avançam pela existência sonambulicamente, trotando dentro de seu delírio. O que chamamos de gênio não é senão o poder magnífico que alguns homens têm de distender um pouco esta névoa imaginativa e descobrir, por seu intermédio, tiritando de puro nu, um novo pedaço autêntico de realidade (pg. 95).
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O "namoro" é, antes de tudo, um fenômeno da atenção (pg. 100).
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Onde queira que a "namorada" esteja, qualquer que seja sua aparente ocupação, sua atenção gravitará pelo próprio peso para aquele homem. E, vice-versa, custar-lhe-á uma grande violência tirá-la um momento dessa direção e orientá-la para as urgências da vida. Santo Agostinho viu sagazmente esse ponderar espontâneo para um objeto que é característico do amor. Amor meus, pondus meum: ilo feror, quocumque feror: meu amor é meu peso: por ele vou a toda parte que vou (pg. 103).