23 de abril de 2009

Cecília Meireles (1901 - 1964)

Cecília me emociona profundamente. Ela costumava dizer que, em toda a sua vida, nunca se esforçou por ganhar coisa alguma nem se espantou por perder. Ela conhecia o sentido profundo, doloroso às vezes, da transitoriedade. Hoje alguns de seus livros despencaram de uma estante, por isso essa postagem.

Despedida

Por mim, e por vós, e por mais aquilo
que está onde as outras coisas nunca estão,
deixo o mar bravo e o céu tranqüilo:
quero solidão.
Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces? - me perguntarão.
- Por não ter palavras, por não ter imagens.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.
Que procuras? Tudo. Que desejas? - Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.
A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação...
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?
Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão!
Estandarte triste de uma estranha guerra...)
Quero solidão.