25 de janeiro de 2009

AS CARTAS XV

Carta de Francisco para Maria de 31 de agosto de 1924.

Maria,
As violetas... As lindas e melancólicas violetas... Muito devo-te por elas. As flores fazem tanto bem a um doente! Eu sou feliz... Dessa felicidade que nunca teve Leopardi, o grande e mísero doente que não encontrou, na vida, o amor de uma mulher. Elas estão sobre a minha mesa de cabeceira ao lado de minha cama. Olho-as quase sempre. E delas, assim unidas em ramalhete, parece que sempre começa um crepúsculo longo, longo, como meu sonho...
Pelas violetas, mando-te um beijo.
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E o livro, muito t'o agradeço. Como que adivinhaste a minha profunda simpatia intelectual e de alma por este patriota e bom Sílvio martire della prigionia borbonica, che, appena ricuperata la libertà sua, si ricaccia nella lotta per la libertà della patria.Como merece, ele vai para a minha coleção de encadernações de luxo, já se vê, de obras notáveis.
Pelo livro, mando-te um abraço.
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E o teu retrato, minha pluma. Não te zangues: sinto não poder tê-lo sobre a minha mesa de estudo e mostrá-lo, orgulhoso, a toda gente... E também aquela imagem, a tua imagem evoca a imagem de um tempo tão doloroso para mim... Lembra-te?
Era carnaval... Eu sofria a tortura de não te ver e a tortura, ainda maior, da minha imaginação, cujos olhos viam-te sempre embriagada ao perfume dos galanteios... E o teu olhar, para os outros... O teu sorrido, para os outros... Os gestos do teu corpo, para os outros... E para mim, apenas a dor... E essa dor eu quase esquecia à sombra do teu amor... Mas foste perversa, talvez sem o querer, e me mandaste o teu retrato, aquele retrato que é, para mim, a memória despiedosa da minha dor daquele tempo...
Pelo retrato, mando-te uma lágrima
Do teu
Francisco