29 de março de 2016

Singularrnente plural

Não sei, não.
Mas acho que não vale a pena escrever qualquer coisa.
Faz tempo que meu achismo anda por aí. Do não valer a pena escrever. Talvez nem pensar. Melhor passar café, comer qualquer coisa, ver TV. Melhor deixar-se massificar de uma vez por todas.

E esquecer um pouco a primeira pessoa que anda por ai tão singularmente plural.

2 de março de 2016

Corpo & Linguagem

"Estamos na linguagem como em nosso corpo; nós a sentimos espontaneamente ultrapassando-a em direção a outros fins, tal como sentimos as nossas mãos e os nossos pés; percebemos a linguagem quando é o outro que a emprega, assim como percebemos os membros alheios. Existe a palavra vivida e á palavra encontrada. Mas nos dois casos isso se dá no curso de uma atividade, seja de mim sobre os outros, seja do outro sobre mim. A fala é um dado momento particular da ação e não se compreende fora dela. Sabemos que certos afásicos perdem a possibilidade de agir, de entender as situações, de manter relações normais com o sexo oposto. No seio dessa apraxia, a destruição da linguagem parece apenas o desmoronamento de uma das estruturas: a mais fina e mais aparente. E se a prosa não é senão o instrumento privilegiado de certa atividade, se só ao poeta cabe contemplar as palavras de maneira desinteressada, temos o direito de perguntar ao prosador antes de mais nada: com que finalidade você escreve? Em que empreendimento você se lançou e por que necessita ele do recurso à escrita?"

SARTRE, Jean-Paul. Que é a literatura? São Paulo: Ática, 2004, p. 19.

22 de fevereiro de 2016

Bom lembrar






O poder é inevitável e nunca é inocente.
Toda relação, de algum modo, é marcada pelo poder.
RAFFESTIN


Nós somos a nossa memória


16 de fevereiro de 2016

Da melancolia


A melancolia é uma das formas mais acentuadas de uma dor suave; é um fenômeno psíquico muito complexo, e que, na esfera elevada, representa o mesmo que o prurido no baixo terreno das sensações tácteis.

É ela uma lenta e doce oscilação  entre prazeres e dores de origem psíquica, e pode apresentar-nos formas muito variadas, segundo a causa que a produz e a proporção diversa em que nela entram o prazer e a dor.

Nem todos são capazes de sentir a melancolia, a qual é uma forma elevada de emoção, inteiramente negada aos homens [...] ou de baixa hierarquia psíquica.
[...] Todos podem estar tristes, nem todos podem estar melancólicos.
Para que isso se dê, exigem-se muitas e diversas circunstâncias: exige-se muita sensibilidade, uma certa tendência para as coisas fantásticas, por vezes até uma paixão mórbida pelos ócios contemplativos.

A febre da ação e a petulante galhardia da saúde excluem quase sempre a capacidade de sermos melancólicos [...].

MANTEGAZZA, Paulo. O livro das melancolias. Lisboa: Santos & Vieira, s/d, p. 146/147.

25 de janeiro de 2016

Pois é

A foto é de 2013. Não faço ideia se o valor ainda é o mesmo. Parece que o tempo das velas já passou e, com ele, aquele cheiro característico, o clima misterioso, a luz trêmula que levava até mesmo os ateus e as ateias a tentarem aparentar certa contrição discreta. Eu, que adoro templos e igrejas, acho muito sem graça os tais velários eletrônicos. Mas o tempo passa. Das obsolescências, a menor. 

6 de janeiro de 2016

Cheiro de mulher

"Como daí chegaram ao amor, não o soube ele nunca. A verdade é que gostava de passar as horas ao lado dela, era a sua enfermeira moral, quase uma irmã, mas principalmente era mulher e bonita. Odor di femmina: eis o que ele aspirava nela, e em volta dela, para incorporá-lo em si próprio. Liam os mesmos livros, iam juntos a teatros e passeios."

Machado de Assis, A Cartomante.