Uma nova moda está lançada: a
antimedicina. Ivan Illich[2], citado por Michel
Bosquet, se faz dela o teórico. Ele afirma que a medicina não serve para nada
(ou pouco falta para isso). Que os médicos fazem mais mal do que bem. Que “os
medicamentos matam entre 60 e 140 milhões de americanos nos hospitais” (Le Nouvel Observateur). Sofisma que é preciso
interpretar sob o ângulo ideológico. Illich acusa a medicina de ser objetivamente
“cúmplice” dos poderes constituídos. Ter boa saúde em uma sociedade corrompida
é estar “adaptado” à corrupção. “A medicina, ajudando os indivíduos a
suportarem aquilo que os destrói, contribui para com esta destruição” (ibid.).
A abordagem de Illich assemelha-se àquela
dos antipsiquiatras. Para esses últimos, os doentes mentais são normais,
enquanto as pessoas normais são doentes. Suportar “normalmente” o mundo
exterior é confessar, por este mesmo fato, que se vive em simbiose com ele.
Ora, esse mundo é acusado de ser doente. Ser “normal” é, pois, ser doente. Os “alienados”,
ao contrário, “testemunham” sua alienação. Recusam-se a lidar com a “sociedade
burguesa”: sinal de boa saúde.
Os mesmos sofismas prevalecem pouco a
pouco em todas as disciplinas. A escola é especialmente visada. A seleção
torna-se o inimigo número um. Todos devem chegar aos mesmos resultados. O homem
é uma tábula rasa. Ele tem o “direito” de ser adulto e de ser inteligente. Além
disso, tem direito aos diplomas, evidentemente. O professor, este, não tem mais
o direito de dar lições. Ele deve “colocar-se à escuta” de seus alunos e ajudá-los
a “melhor se compreenderem”. Sua experiência nada vala diante da “espontaneidade”.
É uma antipedagogia.
Há também a antisociedade. Todas as
doutrinas igualitárias se unem para exigir a abolição das “barreiras”. Em
primeiro lugar aquelas das hierarquias. Moralistas impacientes atacam o “pai”
sob todos os seus avatares. As estruturas da família eclodem. O inferior julga
o superior. Condena-se o poder em nome da “segurança”, a beleza em nome do
informal, a cultura em nome da contracultura, o bom-senso em nome do absurdo.
A vida púbica é dominada por uma
tendência: a superioridade social. A ponto de parecer ultrajante desafiá-la. É
preciso dizer, todavia: a primeira tarefa do Estado não é de ordem econômica ou
social. Ela é de ordem política. O Estado não é uma ferramenta a serviço das
massas. Ele transcende a simples soma dos cidadãos. Existe uma razão de Estado,
fundamento da teoria europeia dos poderes. O papel do Estado é o de assegurar
ao povo não somente um “amanhã”, mas, sobretudo, um destino. A condição desse destino é a independência.
Toda política, aliás, exige a designação de um inimigo. Em um mundo de
superpotências, podemos ao menos querer ser uma delas. Falam-nos de
mundialismo, de República Universal e de dependência “obrigatória”. É uma antipolítica.
O biologista Henri Laborit declarou recentemente: “Depois da antipsiquiatria,
da antimedicina, da anti-educação, aguardo a chegada da antipsicologia e a
antisociologia. Embora já tenhamos uma antieconomia, quando a anti-espécie
humana? Teremos então criado um antimundo”.
A verdade será mentira, a fraqueza será
força, a igualdade será a lei. 1984[3]: acontece em nove anos.
[1] Robert de
Herte é um dos pseudônimos
adotados por Alain de Benoist. (N. da T.).
[2] Interessante. Sobre este autor, que fala de
iatrogenia e que Olavo de Carvalho recomenda, encontrei a seguinte crítica em
obra publicada em Les Classiques de Sciences Sociales:
Illich acredita defender o
interesse dos desamparados daqui e dali, propondo o “desemprego criador”, ou
seja, o trabalho não remunerado e destinado a produzir unicamente valores de
uso. Nas sociedades contemporâneas somente os ricos têm a possibilidade de
praticarem o desemprego criador. Se os desamparados, os pobres e os
desfavorecidos dos países subdesenvolvidos e desenvolvidos tentarem ser
desempregados criadores, — bem! — eles serão ainda pobres e verdadeiros
desempregados. Nesse sentido, eu poderia intitular este artigo como “Ivan
Illich u=ou o criador do desemprego”. Illich é, sem dúvida, um profissional mutilador
(ASSOGBA, Yao. “Ivan Illich. Essai de
synthèse”. Artigo publicado na revista Critères,
Montréal, n° 26, 1979, pp. 217-235). N. da T.
[3] George Orwell (N. da T.).