"Avdótia Românovna era muito
bonita, alta, maravilhosamente bem feita, forte, aprumada, o que se via em
todos os seus gestos, e o que, aliás, não era de maneira nenhuma um obstáculo a
que tivesse também movimentos ágeis e graciosos. No rosto parecia-se com o
irmão, mas podia até dizer-se que era uma autêntica beleza. Tinha os cabelos
castanhos, um pouco mais claros que os do irmão; os olhos quase negros,
cintilantes, altivos e, ao mesmo tempo, às vezes, de uma doçura invulgar. Era
pálida, mas não de palidez doentia; o seu rosto resplandecia fresco e são.
Tinha a boca um tanto pequena; o lábio inferior, fresco e vermelho, era
levemente saliente, bem como o queixo... o que era a única irregularidade
naquele belíssimo rosto, mas que entretanto lhe infundia uma nota especial, e,
entre outras coisas, uma certa altivez. A expressão do seu rosto era sempre
verdadeiramente mais séria do que alegre, preocupada; mas o sorriso ficava bem
a esse rosto; como lhe assentava bem o riso jovial, juvenil, despreocupado! Por
isso era compreensível que o impetuoso Razumíkhin, franco, simples, honesto e
forte como um homem antigo, que nunca na sua vida vira nada semelhante,
perdesse o juízo assim que a viu."
Dostoievski, Fiodor Mikhailovitch, em Crime e Castigo.