8 de dezembro de 2015

Avdótia Românovna

"Avdótia Românovna era muito bonita, alta, maravilhosamente bem feita, forte, aprumada, o que se via em todos os seus gestos, e o que, aliás, não era de maneira nenhuma um obstáculo a que tivesse também movimentos ágeis e graciosos. No rosto parecia-se com o irmão, mas podia até dizer-se que era uma autêntica beleza. Tinha os cabelos castanhos, um pouco mais claros que os do irmão; os olhos quase negros, cintilantes, altivos e, ao mesmo tempo, às vezes, de uma doçura invulgar. Era pálida, mas não de palidez doentia; o seu rosto resplandecia fresco e são. Tinha a boca um tanto pequena; o lábio inferior, fresco e vermelho, era levemente saliente, bem como o queixo... o que era a única irregularidade naquele belíssimo rosto, mas que entretanto lhe infundia uma nota especial, e, entre outras coisas, uma certa altivez. A expressão do seu rosto era sempre verdadeiramente mais séria do que alegre, preocupada; mas o sorriso ficava bem a esse rosto; como lhe assentava bem o riso jovial, juvenil, despreocupado! Por isso era compreensível que o impetuoso Razumíkhin, franco, simples, honesto e forte como um homem antigo, que nunca na sua vida vira nada semelhante, perdesse o juízo assim que a viu."

Dostoievski, Fiodor Mikhailovitch, em Crime e Castigo.