"O crescimento excessivo da população comparativamente aos meios naturais de subsistência é, na vida selvagem, um perigo contínuo. Isto nos explica a maior parte dos homicídios que, entre os povos primitivos, não apenas se cometem com impunidade, mas ainda são ordenados segundo a moral e a religião, fornecendo um título de glória. O aborto premeditado, que não ocorre entre os animais, é comum entre os selvagens. É preciso ir até o Zend-Avesta, para encontrar as primeiras proibições sobre este assunto. Entre os tasmanianos, as mulheres não consentem em se tornarem mães antes de muitos anos de casamento. Para conservarem seu frescor, elas tentam ou provocam o aborto, batendo no ventre com golpes redobrados. Ocorre o mesmo na Nova Caledônia. O aborto é bastante comum na América, na baía de Hudson e na baía do Orenoco. No Prata, os paiaguás fazem abortar suas mulheres depois que têm o segundo filho; assim fazem também os mbayas, seus vizinhos. Entre os papuas, as mulheres morrem jovens, pelo hábito geral de provocarem o aborto depois do primeiro ou segundo filho. Mas é, sobretudo, nas ilhas, onde encontramos menos recursos, que o homicídio e o aborto são permitidos. Em Formosa, onde a barbárie é menor, o aborto é comandado pela utilidade e moral públicas. As mulheres não podem ser mães antes de atingirem a idade de trinta e seis anos. Há sacerdotisas encarregadas fazê-las abortar, no caso de engravidarem antes dessa época."
Fonte: LOMBROSO, César. O Homem Delinqüente, Ricardo Lenz, Porto Alegre, 2001, p. 79/80.