26 de julho de 2012

Fluidos


Fluidos. Com a primeira semivogal tonalizada, como deve ser. Fluidos. Lembro-me de quando ouvi pela primeira vez esta palavra aplicada por um espiritista dado a discursos sobre as tais estranhas forças que nos cercam. Tudo é cheio de forças — dizia ele — de fluidos, de emanações, de energias que se deslocam pelo espaço, mesmo estando fora do espaço. Contingentes, imprecisas, sempre refugindo ao alcance de nossos parcos sentidos. Criança ainda, aquilo impressionou-me profundamente, acossou-me a imaginação, e fiquei a me representar os tais fluidos pelo espaço, à deriva, formando estranhos desenhos ainda mais leves e sutis que aqueles que eu costumava flagrar nas nuvens. E então, ao ver esta foto, dei-me conta de que imaginava os tais fluidos do espiritista como algo assim: uma sutilíssima fumaça que desenha formas abstratas pela paisagem, irradiando luar, vibrações, assombros. Tão sombrio, tão simples. Tão precário como é toda verdade que se opõe a esse cotidiano prosaico que nos esmaga com sua retórica precisa e seca.