Fluidos. Com a primeira semivogal
tonalizada, como deve ser. Fluidos. Lembro-me de quando ouvi pela primeira vez
esta palavra aplicada por um espiritista dado a discursos sobre as tais
estranhas forças que nos cercam. Tudo é cheio de forças — dizia ele — de fluidos,
de emanações, de energias que se deslocam pelo espaço, mesmo estando fora do
espaço. Contingentes, imprecisas, sempre refugindo ao alcance de nossos parcos
sentidos. Criança ainda, aquilo impressionou-me profundamente, acossou-me a
imaginação, e fiquei a me representar os tais fluidos pelo espaço, à deriva,
formando estranhos desenhos ainda mais leves e sutis que aqueles que eu
costumava flagrar nas nuvens. E então, ao ver esta foto, dei-me conta de que
imaginava os tais fluidos do espiritista como algo assim: uma sutilíssima
fumaça que desenha formas abstratas pela paisagem, irradiando luar, vibrações,
assombros. Tão sombrio, tão simples. Tão precário como é toda verdade que se
opõe a esse cotidiano prosaico que nos esmaga com sua retórica precisa e
seca.