Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens. Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse a sempre novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente todos os dias. Mas preparado estou para sair discretamente pela saída da porta dos fundos. Experimentei quase tudo, inclusive a paixão e o seu desespero. E agora só quereria ser o que eu tivesse sido e não fui.
LISPECTOR, Clarisse. A Hora da Estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998, 1a. ed., p. 21
30 de outubro de 2011
24 de outubro de 2011
23 de outubro de 2011
A ver navios
A foto está mais para as minhas Imagens Imaginadas, mas acabei postando aqui mesmo.
20 de outubro de 2011
19 de outubro de 2011
18 de outubro de 2011
Decepção
É um desapontar-se, sim, só que mais fundo, e continuamente em movimento.
13 de outubro de 2011
12 de outubro de 2011
Ousadias
Toda nova racionalidade traz consigo uma nova estética. O Bom, o Justo e o Belo, tão clássicos, ensejam hoje grandes discussões, relativizam-se, descompartimentam-se. Percebem-se fragmentos de um real que se abstrai. Tudo é muito relativo. Sei, inclusive esta relatividade toda.
9 de outubro de 2011
Panoptismo
Eis as medidas que se faziam necessárias, segundo um regulamento do fim do século XVII, quando se declarava a peste numa cidade. 1 Em primeiro lugar, um policiamento espacial estrito: fechamento, claro, da cidade e da «terra», proibição de sair sob pena de morte, fim de todos os animais errantes; divisão da cidade em quarteirões diversos onde se estabelece o poder de um intendente. Cada rua é colocada sob a autoridade de um síndico; ele a vigia; se a deixar, será punido de morte. No dia designado, ordena-se a todos que se fechem em suas casas: proibido sair sob pena de morte. O próprio síndico vem fechar, por fora, a porta de cada casa; leva a chave, que entrega ao intendente de quarteirão; este a conserva até o fim da quarentena. Cada família terá feito suas provisões; mas para o vinho e o pão, se terá preparado entre a rua e o interior das casas pequenos canais de madeira, que permitem fazer chegar a cada um sua ração, sem que haja comunicação entre os fornecedores e os habitantes; para a carne, o peixe e as verduras, utilizam-se roldanas e cestas. Se for absolutamente necessário sair das casas, tal se fará por turnos, e evitando-se qualquer encontro. Só circulam os intendentes, os síndicos, os soldados da guarda e também entre as casas infectadas, de um cadáver ao outro, os «corvos», que tanto faz abandonar à morte: é «gente vil, que leva os doentes, enterra os mortos, limpa e faz muitos ofícios vis e abjetos». Espaço recortado, imóvel, fixado. Cada qual se prende a seu lugar. E caso de mexa, corre perigo de vida, por contágio ou punição. Archives militaires de Vicennes, in FOUCAULT, Michel, Vigiar e Punir. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010, p. 186.
8 de outubro de 2011
7 de outubro de 2011
6 de outubro de 2011
5 de outubro de 2011
4 de outubro de 2011
2 de outubro de 2011
Vidraça
São Paulo, centro, refletido numa das vidraças do Teatro Municipal.
O real pode ter a fragilidade de um reflexo, mas nem por isso é menos consistente. Descobrir que a fotografia pode deixar-se moldar com a mesma passividade de um pincel, quando submisso a um tema surrealista, me encanta, porque consigo dar realidade ao que nunca esteve lá, mas que nem por isso deixa de estar, inserida a imagem em algum lugar do passado, da história da cidade, e (des)inserida do meu olhar que, desligado desse real que está por aí em toda parte, insiste em manter-se míope ao que é simplesmente óbvio.
1 de outubro de 2011
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