30 de outubro de 2011

O que não fui

Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens. Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse a sempre novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente todos os dias. Mas preparado estou para sair discretamente pela saída da porta dos fundos. Experimentei quase tudo, inclusive a paixão e o seu desespero. E agora só quereria ser o que eu tivesse sido e não fui.
LISPECTOR, Clarisse. A Hora da Estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998, 1a. ed., p. 21