7 de setembro de 2010

Os Filhos do Espanto


Nossa arte é a cegueira causada pela verdade. Unicamente a claridade sobre o rosto que se crispa e retrocede é verdeira, o resto é mentira.
Franz Kafka
O filho do espanto é um solitário esmagado por sua solidão. Vimos que a sensibilidade do homem solitário sofre, antes de mais nada, um choque com a desarmonia fundamental da realidade, seu absurdo, que lhe traz, propriamente, a consciência da solidão. A fidelidade a esse primeiro momento de pasmo denuncia o filho do espanto como o homem impotente para erguer-se de seu dramático desamparo. Tal impotência aponta, nele, um esgotamento nas suas intuições originais, um ser sempre mais sensível que reflexivo. O filho do espanto é, por isso, um puro artista, isento das exigências de soluçoes claras e definidas do filósofo. Franz Kafka é ainda o maior deles, o grande angustiado de nosso tempo.
MACIEL, Luiz Carlos. Samuel Beckett e a solidão humana, Instituto Estadual do Livro, 1959, p. 41.