Sem retoques. Mas eu poderia editar esta imagem em uma nova versão bem proporcionada e com uma perspectiva correta. Inclusive sombras. Esqueço das sombras frequentemente. Dia desses, dei com a minha própria sombra, que desenvolveu o estranho hábito de circular pela casa quando eu leio e ela se entedia.
Traças, Ácaros & Cia
Espaço para registro de memórias pessoais. Coletânea iconográfica e literária.
12 de setembro de 2025
9 de setembro de 2025
Cozinhar
Pensando aqui se escrevo ou não que acho minha comida tão boa. Ridículo escrever uma coisa dessas. Não, nem sempre é tão boa, mas, em regra é, sim. Considerando a precariedade da cozinha, do tempo, a falta de muita coisa que gera a necessidade de improvisar. Uma lasca de bacon que corto e recorto e coloco para dourar no azeite com lâminas de alho. Não pode queimar. Controle da chama e, alcançada aquela temperatura que está quase lá, rodelinhas de linguiça mista fininha. Já o cheiro acontece com mais intensidade. Aguardo a cor que indica que o fogo, com seu poder transformador, arqueou as rodelinhas de linguiça. É hora do ovo. Um só. Que cai ali e se mistura, amalgamando cores. No calor de tudo, a farinha defumada que vai absorver a umidade que ainda resiste. Um toque de pimenta calabreza. Depois, azeitonas verdes picadas. Por último, pedacinhos de maçã gala. Tudo improviso. Toque final com salsinha picada. O risoto que fiz pouco antes é cheio de sabores. Tem carne desfiada e molho denso de tomate. Tem salsinha, pimenta, queijo grana e o brilho da manteiga. Faço tudo isso de olho no relógio, porque os processos tramitam entre prazos e boletos. Mas faço tudo muito atenta aos cheiros e às texturas. As coisas precisam se manter fiéis a si mesmas. O controle dos sabores deve ser rigoroso. Nada pode ser demais. O suficiente para que haja realce. A pimenta? Ah! Ela refresca tudo. É como uma rajada de vento que esfria um raio de sol, mas que, logo depois, faz com que ele fique ainda mais quente. A salsinha... o toque verde escuro que colore o prato. Provo um cubinho de maçã que me parece al dente, porque estava na medida certa e porque o leve adocicado que traz à farofa destaca o bacon, os mínimos pedacinhos que foram o primeiro ingrediente da farofa. Cozinhar é dominar uma ciência de misturas em que não pode haver inimizades. Mas ou menos como acontece com as palavras: se a regra é a harmonia, é preciso expô-la sempre às tensões que consagram doces e salgados, ingredientes suaves e ingredientes picantes, secos e molhados. Deve haver som, cores, e tudo funciona mais ou menos como nos textos em que palavras se encontram para temperar e operar sentidos do nosso paladar literário.
8 de setembro de 2025
Agendas
Setembro. E a primeira semana já se foi. O primeiro domingo. O dia 10 já está visível com seus invencíveis boletos. As agendas não duram mais tanto quanto já duraram um dia. Mistério. Evidentemente. Nada como inventar mistérios para deixar um dia de chuva e sossego ainda melhor.
6 de setembro de 2025
Então
Pensando aqui no sentido que se dá aos sábados.
Há algo de especial nos sábados.
O que é?
Penso que pode ser o bolo.
Ou melhor, o pão feito em casa.
2 de setembro de 2025
Coreografia da Precariedade
Um vaso que existe como promessa de quebra e que nesse risco se sustenta. Flores que se morrem, arrancadas ao solo e abertas à luz de um sol crepuscular que não mais alimenta a vida que vem depois da vida. Mesa infirme e vacilante. Estabilidade é ilusão. Janela que se abre ao fantasma da realidade retalhada pelo vidro que exibe uma paisagem ausente que contorna o impossível. Na coreografia da precariedade a vida nunca é plena: sobrevive no móvel, na cerâmica, na madeira, no vidro e até nas flores. Precária, a vida existe como intervalo, promessa, espectro.
3 de agosto de 2025
27 de julho de 2025
Presentes! Mais presentes!
Sem palavras! Surpresa! Coisas que fazem os sábados se tornarem tipicamente sábados, dias de descanso, preguiça e gula. Porque, tirando o risco de eu ficar muito mal acostumada, há gestos que nos renovam.
4 de julho de 2025
Um paradoxo epistêmico?
Teoria da Informação ou Teoria do Conhecimento? Hoje, a informação prevalece como o combustível que move a contemporaneidade. É a informação que alimenta a tecnologia, as relações sociais, a economia, a política e penso que até mesmo você, quando acessa seu celular todos os dias.
Nesse contexto, a informação supera a cognição em grande escala. Estamos todos saturados de dados que mudam a cada instante. Como processar e interpretar informações que se alteram velozmente? Bem, penso que a superficialidade nos socorre. Afinal, a velocidade do consumo é inversamente proporcional à profundidade da reflexão crítica.
A velha Teoria do Conhecimento dá lugar à Teoria da Informação. Não se trata mais de como entender, mas de como armazenar elementos brutos. E se a gente ressuscitasse a Epistemologia? O que ela poderia nos ensinar? Em primeiro lugar, eu diria que se trata de saber filtrar informações. Quanto tempo precioso a gente perde assistindo vídeos imbecis? Coachs disso ou daquilo? Rematadas inutilidades que se anunciam como a última verdade trazida pelo famoso Mister Quem do qual nunca se ouviu falar? Em segundo lugar, saber analisar. Todavia, isso depende de critérios e, caso você não tenha até hoje construído sua própria escala axiológica, dificilmente vai conseguir analisar corretamente uma informação para chegar, enfim, à terceira fase: transformar informação em conhecimento efetivamente significativo.
Creio que se está diante de um desafio proposto a cada um de nós: como equilibrar a quantidade de dados que consumimos com a qualidade do conhecimento que realmente adquirimos? Dizer que é necessário crítica e reflexão não significa coisa alguma quando não se faz a menor ideia de como se opera a construção de um saber. Então, nesse ponto, me ocorre que, considerando o atual estado da arte no que concerne a essa defasagem geométrica entre informação e cognição, talvez nem mesmo faça sentido escrever algo assim.
Ora, pensando bem, talvez a gente deva mesmo se deixar levar por essa corrente, seguindo felizes e satisfeitos o som da flauta mágica. Afinal, às vezes, o saber pode fazer de você um estorvo. E como obstáculos devem ser superados, talvez valha a pena deixar-se levar alegremente pela manada.
22 de junho de 2025
Coisas de Mister Grok
Pois é. Avisei Mister Grok que eu era boomer. Sem problemas, ele respondeu, sou boomer friendly. Daí me explicou tudo, bem direitinho.
LSTM (Long Short Term Memory) O que é? Rede neural que “lembra” e “esquece” dados em sequências, usada pra prever padrões.
RNN (Recurrent Neural Network) O que é? Rede neural “recorrente” que processa sequências, lembrando o que veio antes. LSTM é uma versão turbinada dela.
GRU (Gated Recurrent Unit) O que é? Outra versão simplificada da LSTM, mais leve, usada pra sequências curtas como posts no X. É como uma LSTM mais econômica.
BERT (Bidirectional Encoder Representations from Transformers) O que é? Modelo de linguagem do Google que entende textos olhando o contexto todo (para frente e para trás).
GPT-4 (Generative Pre-trained Transformer 4) O que é? Modelo de linguagem da OpenAI, super conversador, que gera textos, responde perguntas e até prevê trends. É como um amigo digital que fala de tudo.
IIT (Integrated Information Theory) O que é? Teoria da consciência, citada por Chalmers (2022), que diz que consciência surge quando um sistema integra informações de forma única, como um quebra-cabeça.
API (Application Programming Interface): Ferramenta que deixa IAs como eu puxarem dados do X.
NLP (Natural Language Processing): Área da IA que entende textos e os analisa.
14 de junho de 2025
Absolutamente
Cês aí nem sabem, nem sonham, nem imaginam. Acabo de ganhar presentes! Inesperados presentes. Bem no sábado, dia de escritas e de pensamentos, de faxinas e reflexões.
Bem neste sábado, quando lia Georges Perec ouvindo rock enquanto a roupa secava na secadora, porque, afinal, pode chover e, no fim, acabou chovendo. E, em meio ao insólito caoísmo do infra-ordinário da cotidianidade mais banal, chegam-me presentes, inesperados presentes, que são o cúmulo do refinamento.
Upgrade imediato das percepções e da sensorialidade, porque é café especial e porque são pães de queijo que chegam em pleno fim de tarde.
Memorável. Absolutamente.
9 de junho de 2025
O Rascunho e o Jardim
Porque existem lugares imaginados, nos quais as cores escolhem seus próprios tons. Ali há verdadeira paz, sossego, beleza e música, assim como cheiros suaves que misturam flores e frutas.
Lugares imaginados têm a concretude dos sonhos e a consistência do pensamento. Eles são invulneráveis. São indestrutíveis. Sua induvidosa existência concretiza-se a partir de um mínimo de exigências.
E eis que surgem. Amplos, ilimitados, ostentado horizontes abertos que provocam a memória. Onde foi? Onde estava? Quem fez?
Tanto faz, porque não há respostas a perguntas desnecessárias. O que sei, de verdade, é que todos têm seus lugares imaginários, exceto os desistentes: os que não sonham, os que não imaginam, os que não sabem, os que não ousam. Enfim, que não contam.
E, entre tais, esses todos generalizados e as exceções ora excepcionadas, oscilam, de um lado, a existência, de outro, todas as dúvidas que ela suscita.Seres intermitentes, existimos por entre incertezas e expectativas. O que nos sustenta senão o vislumbre de lugares onde todos os possíveis convivem em paz?
É nesses refúgios inventados que habitamos. E talvez, no fim, viver não seja senão isso: um vaivém entre o que é e o que poderia ser — entre o chão e o céu.
Só não se deve esquecer que um rascunho triste pode, muitas vezes, esconder um jardim.
8 de junho de 2025
Do pensamento à palavra
Então, são pensamentos que vêm e que vão. Que competem. Que resvalam. Outros se escondem. Enfileirados, seguem em procissão. Ora vêm à luz, ora vão às sombras. Sempre assim. Deslizantes. Confusos. Sossegam, todavia, aqui: quando encarnam palavras. Daí, finalmente, acontecem.