Entre o dito e o não dito vai uma diferença que se projeta no tempo. Porque, caso dito, cabe argumentar com o clássico bem que eu te avisei; e, caso não dito, finge-se surpresa e argumenta-se com outro clássico do tipo eu jamais poderia imaginar. Enfim, sociabilidades e sensibilidades. Boa parte da construção social pauta-se em conversas, que têm ditos e não ditos, com certeza. Entre palavras e silêncios, constroem-se esses grandes vazios semânticos que soam muito alto, por conta do eco. Desde não sei precisamente quando, falar tornou-se um risco, porquanto passamos a ser responsáveis pelo sentido e pela interpretação dada pelo outro à nossa fala. Não raramente, há terceiros que, por alguma razão obscura, se inserem no contexto e reclamam. De certa forma, isso transtornou os discursos e abriu margem a comentários que se sobrepõem, palpiteiros e palpitantes. Ora é a cor do vestido, ora é o comprimento do cabelo, e isso para ficar na superficialidade. De fato, as sensibilidades mudaram, retiraram-se de certas zonas antes muito sensíveis, como aquela pautada pelos chamados bons costumes, para se concentrar na mais pura subjetividade.
Palavras e silêncios impactam. É preciso habilidade para navegar entre os espaços comunicativos, evitando mal-entendidos e buscando, quando possível, conexões reais e autênticas.
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