27 de dezembro de 2020

Questionável "evolução"

 Pela História afora criamos muitos deuses e heróis, para que administrassem nossos destinos. Notável, todavia, é que sua evolução ao longo do tempo seja tão decepcionante. O glorioso Zeus deu lugar a um cobrador de impostos: exige dízimos e habita templos cuja arquitetura sabe mais a bancos que a partenons. A evolução dos heróis não fica atrás. Derivou a espécimes diante dos quais o clássico Hércules empalideceria: homens aranhas, morcegos, dentre outras excentricidades.

24 de dezembro de 2020

Produção desobjetivada

Bem assim. Relendo o que me escreveste tempos atrás. É a nossa história, tua versão dela, que intitulaste "O Pêndulo". Ali, entre outras coisas, disseste de mim que, por ser como sou, minha produção artística e intelectual é desobjetivada.  — Pudera! Coisa mais desobjetivada que estas traças e estes ácaros, impossível! — Mas é verdade. Não sou objetiva. Não quero saber o que vou desenhar, nem o que vou pintar, nem o que vou escrever. Nunca sei o que vou postar aqui. Descubro o que fiz só depois de fazer. Pode ser até assustador, mas sou um mistério para mim mesma. Que difícil deve ter sido para ti conviver comigo por tanto tempo...

20 de dezembro de 2020

Então

Não entendi, mas... por que deveria?
 

16 de dezembro de 2020

Eu sei


 Sentar, descansar, iluminar-se na pracinha e esperar. Porque um dia tu vais me surgir assim do nada, do ar, num clarão, num reflexo, numa leve impressão

15 de dezembro de 2020

Eu entendi tudo


Ele recebe os clientes do restaurante de beira de estrada muito à vontade. No meu caso, limitou-se a erguer a cabeça e a dar uma olhada na câmera. Daí, depois que devorei o enorme pastel sem vento, recheado de muita carne suculenta, salsinha e ovo cozido picados, além do café preto passado na hora, tudo simplesmente divino, eu entendi tudo.

politique d'autruche


Então, o bicho tem assim um olhar de superioridade que vou te contar. Ainda mais que muito mais alto que eu!

12 de dezembro de 2020

Bobagens às traças

 

Organização do tempo. Sim, sei que há pessoas que conseguem isso. Se agendam e cumprem. Eu faço isso também, mas tenho absoluta certeza de que, quando funciona, é bem menos por minha capacidade de organização do que por uma espécie de sorte. Sorte? É, tipo assim aquela música "o acaso vai nos proteger", etc. Porque são tantos os imponderáveis. E o tempo não deixa de ser, ele mesmo, imponderável, ainda que se deixe medir. Mas, de certo mesmo, sobre o tempo, uma certeza eu tenho: ele é um luxo, e quando mais o despendemos em futilidades, mais luxuoso ele se torna. Como agora mesmo, por exemplo, com mil coisas importantes a fazer, e eis uma bela hora tomada à manhã deste sábado e desperdiçada numa aquarela e nestas bobagens que escrevo para atirar às traças.

10 de dezembro de 2020

Fidelidade

Quanto mais me estranho no espelho, mais me reconheço na minha escrita.

5 de dezembro de 2020

Só reflexo

 

As torres da igreja refletidas na fonte da praça em frente. É um recorte que, como tal, assume autonomia, independência, liberdade, eu diria. Porque, recortado do todo, não precisa mais ficar submisso à realidade, ao conjunto que integrava como mero reflexo. Agora é real também. Tanto quanto. E eu, justamente por conta de coisas como essa, amo tanto a fotografia: afinal, com ela, quando eu minto, minto de verdade.

4 de dezembro de 2020

Tua ausência

 

Ando por aí vendo tantas coisas. Reconheço belezas prontas em algumas e colho: como essa maravilhosa borboleta. Em outras, fabrico meus próprios belos. Tenho também tocado tantas páginas cujo papel é cheio de vida. Há música e há silêncio que, pacífico, invade a minha casa. Há sabores novos também. Não digo que todas essas coisas não me tragam alegrias, porque me trazem. E porque meus sentidos me entregam tudo com exagerada prodigalidade, como dizias. Entretanto, mal me dou conta de que não estás mais aqui, cores e sabores vão embora, livros emudecem, música e silêncio se igualam: tudo para dar lugar à tua ausência.

3 de dezembro de 2020

Beatriz, a de Dante, sim


 Eu e a Beatriz, que lia a Divina Comédia, ambas sob o olhar de Dante, lá em Caxias do Sul, na praça, durante uma feira do livro, a caminho do Foro, porque não custa parar e olhar. Impressionante é que Beatriz tenha se mudado, ela e Dante, para o Rio Grande do Sul. Quem diria? Mas como são vizinhos da Catedral, que fica ali perto, só posso imaginar que se sintam bem instalados. Diria mesmo que ela foi gentil comigo, posando para esta foto.

Aliás, foto Cestari.



2 de dezembro de 2020