27 de novembro de 2011

Das ausências


Talvez não seja exatamente o que pensamos uma ausência. Há outros onipresentes a quem designamos um exílio emocional tão determinante que jamais se fazem presentes e, ainda que estejam por perto, sua ausência é sempre absoluta. Nascem mortos, ou se morrem, ou os matamos nós, dolosa ou culposamente. Outros dentre os outros são sempre esquecidos, porque nunca chegaram a ser lembrados, a não ser de modo fugidio e, não fossem agendas e lembretes, não tomavam existência nem corporeidade nunca. Até que se desejaria não os esquecer, até que se desejaria, por delicadeza ou complacência, lembrá-los mais vezes, só que, ainda assim, nos fogem, nos escapam, e nada deles deixa rastro de memória que nossa sensibilidade possa capturar, indiferentes que são. Muito iguais, nunca chegaram a tomar corpo e assim ficaram, para sempre fragmentados. Outros há, todavia, cuja presença é tão intensa que já fazem parte de nós, presentificam-se em nosso interior, ficam sempre ali e de tal forma, e com tamanha persistência, que viram um pouco outros eus da gente também. E, no fim, nos acostumamos com suas presenças que ausência alguma é capaz de esmorecer. Deixam de ser outro e passam a ser um pouco a gente mesmo. Ou a gente mesmo vira esse outro lá por dentro. O que não sei dizer é se isso é assim mesmo ou só impressão minha.